A fluoretação da água potável, prática adotada em diversos países para reduzir cáries dentárias, enfrenta uma crescente oposição, especialmente nos Estados Unidos. Apesar dos benefícios comprovados na saúde bucal, críticos argumentam que a adição do mineral pode representar riscos à saúde e uma interferência na liberdade individual.
A fluoretação e seus impactos na saúde
Desde que os cientistas identificaram que populações expostas a níveis mais altos de flúor na água apresentavam menores taxas de cáries, diversos países passaram a adicionar o mineral ao abastecimento público. No Brasil, a prática é obrigatória desde 1974, e estudos indicam que a medida reduziu a prevalência de cáries entre 50% e 65% após dez anos de exposição.
O flúor fortalece o esmalte dos dentes e repõe minerais perdidos devido à ação de ácidos presentes na alimentação. Além disso, pesquisas apontam que a fluoretação da água tem um impacto positivo em comunidades de baixa renda, onde o acesso a tratamentos odontológicos é limitado.
Crescimento da oposição ao flúor
Nos últimos anos, a resistência à fluoretação tem aumentado, especialmente nos EUA. O mineral foi citado no relatório Make America Healthy Again, que lista fatores responsáveis pela crise de doenças crônicas infantis. O influenciador de bem-estar Calley Means, conselheiro do governo americano, classificou a fluoretação como um “ataque às crianças de baixa renda” e sugeriu que os pais descartem pastas de dente com flúor.
A oposição também ganhou força com a nomeação de Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde dos EUA. Em março de 2025, o estado de Utah se tornou o primeiro a proibir a fluoretação da água, seguido pela Flórida, que sancionou uma lei restringindo aditivos no abastecimento público.
Evidências científicas e revisão de políticas
Embora muitos cientistas considerem a fluoretação uma vitória da saúde pública, algumas revisões recentes sugerem que os benefícios podem não ser tão expressivos quanto há 50 anos, antes da popularização de pastas de dente fluoretadas.
Nos EUA, cerca de 63% da população consome água fluoretada, enquanto 12 milhões de pessoas recebem água com flúor natural. Estudos indicam que a exposição excessiva ao mineral pode estar associada a uma leve redução do QI infantil, mas especialistas afirmam que essa relação ocorre apenas em concentrações duas vezes superiores ao limite recomendado.
Diante das controvérsias, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA iniciou uma revisão das evidências científicas sobre os possíveis riscos da fluoretação.
Alternativas à fluoretação da água
Diversos países optam por outras formas de fornecer flúor à população. Na Suíça, o mineral é adicionado ao sal, enquanto na Tailândia, o governo distribui leite fluoretado para crianças em escolas públicas.
No Japão, onde a água não é artificialmente fluoretada, algumas prefeituras promovem bochechos com flúor em escolas. Estudos recentes sugerem que crianças japonesas expostas a níveis naturais mais altos de flúor apresentam menos cáries.
A experiência de países que interromperam a fluoretação também é relevante. Em Calgary, Canadá, a prática foi suspensa em 2011, mas restabelecida em 2025 após um aumento nos casos de cáries.
O futuro da fluoretação
Enquanto alguns governos avaliam a remoção do flúor da água, especialistas alertam que a medida pode ampliar desigualdades na saúde bucal, afetando principalmente comunidades mais vulneráveis.
A discussão sobre a fluoretação da água continua, envolvendo questões científicas, políticas e sociais. A decisão de manter ou remover o flúor do abastecimento público dependerá do equilíbrio entre benefícios comprovados e preocupações emergentes.