PF revela que Abin de Bolsonaro espionou Gregório Duvivier por motivos ideológicos

3 Min de leitura
Ator Gregório Duvivier • Raquel Pellicano / Reprodução

O ator e humorista Gregório Duvivier, cofundador do coletivo de comédia Porta dos Fundos, foi alvo de monitoramento ilegal por parte da chamada Abin paralela, grupo clandestino de inteligência supostamente instalado durante o governo Jair Bolsonaro. O nome do artista apareceu em um dossiê interno elaborado por servidores da agência a pedido de Marcelo Araújo Bormevet, então chefe do Centro de Inteligência Nacional (CIN) e homem de confiança do ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem.

O documento que comprova o monitoramento veio à tona com a quebra de sigilo determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como parte do inquérito que investiga espionagem ilegal, produção de desinformação e organização criminosa dentro do Estado brasileiro.

Alvo escolhido por “incomodar politicamente”, diz investigação

Segundo a Polícia Federal, o objetivo da “equipe paralela” dentro da Abin era montar dossiês sobre figuras públicas que representassem algum tipo de “risco reputacional” ao governo. Duvivier teria sido incluído na lista por sua atuação crítica a Bolsonaro e por sua influência em redes sociais e meios culturais.

A execução da coleta de dados ficou sob responsabilidade do agente Giancarlo Gomes Rodrigues, subordinado de Bormevet. Em uma das mensagens interceptadas, ele respondeu ao comando com naturalidade: “O Gregório já está na minha lista.” Segundo o relatório, isso evidencia que o humorista era monitorado de forma recorrente, sem respaldo legal ou protocolo institucional.

Desinformação como política de Estado

Além do rastreamento pessoal, o mesmo grupo da Abin paralela também atuava na produção de campanhas de desinformação. Segundo a PF, essas peças eram “baseadas em dados reais, mas distorcidos de forma sistemática para perseguir opositores ou descredibilizar vozes críticas”.

Duvivier não foi o único alvo. Diversos nomes da política, imprensa e Judiciário também foram espionados de maneira irregular — alguns por engano, como o próprio ministro Moraes, que segundo o inquérito foi monitorado com base em um CPF errado.

A defesa do artista ainda não se pronunciou publicamente. Já os agentes envolvidos na estrutura da Abin paralela — incluindo Bormevet e Giancarlo — estão presos ou respondem a processos sob acusações que envolvem abuso de autoridade, interceptação ilegal e violação de direitos fundamentais.

Compartilhar