A elevação da taxa Selic para 15% ao ano, anunciada pelo Banco Central nesta semana, não apenas representa um freio adicional à atividade econômica, mas também expõe o desequilíbrio fiscal do Brasil com intensidade inédita. Economistas apontam que os juros elevados — supostamente necessários para controlar a inflação — também ampliam em bilhões o custo da dívida pública, formando um ciclo vicioso difícil de romper.
Com cerca de 47% da Dívida Pública Federal (DPF) indexada à Selic, o impacto de apenas 1 ponto percentual a mais na taxa representa R$ 37,5 bilhões em encargos extras num ano, segundo projeções do economista Sérgio Goldenstein. Quando somadas operações compromissadas e novas emissões mais caras, o número ultrapassa R$ 50 bilhões adicionais, onerando o Tesouro em uma escala preocupante.
Diagnóstico de estagnação fiscal e armadilha monetária
Na avaliação de analistas como Jeferson Bittencourt, ex-secretário do Tesouro e atual chefe de macroeconomia do ASA Investments, a raiz do problema não está nos juros em si, mas na inoperância do governo em conter gastos públicos. Segundo ele, a Selic elevada é consequência, não causa da desordem.
“O déficit primário elevado pressiona a expectativa de inflação, o que exige juros mais altos para manter a âncora monetária. O problema é que o custo dos juros alimenta a própria dívida, que só cresce porque não há superávit para pagá-la”, afirma.
O cenário descrito também é corroborado por José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos: “Hoje o Banco Central não tem opção. Com uma política fiscal expansionista e inflação ainda resiliente, só resta uma resposta monetária firme — mesmo que isso signifique apertar o torniquete por muito mais tempo.”
Dívida avança e supera os R$ 8 trilhões
De acordo com estimativas, a Dívida Pública Federal pode fechar o ano em até R$ 8,5 trilhões, frente aos R$ 7,3 trilhões registrados no final de 2024. Enquanto isso, o “colchão de liquidez” — ou reserva de emergência do Tesouro — deve chegar a pouco mais de R$ 1 trilhão, o que ajuda a rolar a dívida, mas não resolve o problema estrutural.
A previsão para pagamento de juros da dívida interna (DPMFi) nos próximos 12 meses já atinge R$ 540 bilhões, sinalizando que quase metade do esforço fiscal do Estado servirá apenas para manter o serviço da dívida atual, sem redução efetiva do estoque.
Pressão eleitoral e falta de resposta política
A perspectiva de eleições presidenciais em 2026 adiciona volatilidade aos mercados e hesitação no ajuste de contas públicas. Com uma máquina estatal inchada e uma resistência histórica a cortes estruturais, analistas temem que o governo opte por medidas paliativas — como aumento de arrecadação — ao invés de enfrentar de frente o desequilíbrio dos gastos correntes.