Um soldado da Polícia Militar de São Paulo foi detido na última quarta-feira (18 de junho) após um desentendimento com um capitão da corporação durante uma perícia médica realizada no Hospital da Polícia Militar, no bairro do Tucuruvi, zona norte da capital. O motivo da prisão teria sido o uso do pronome “você” ao se referir ao oficial superior, o que configuraria, segundo o artigo 160 do Código Penal Militar, um ato de desrespeito a superior hierárquico diante de outro militar.
O soldado Lucas Cardoso compareceu ao hospital acompanhado de sua advogada, Fernanda Borges de Aquino, para passar por avaliação médica devido a uma lesão no ombro. De acordo com relatos da defesa, é comum que policiais levem representantes jurídicos nesses casos por conta de dúvidas frequentes na validação de atestados médicos.
Durante a consulta, o capitão médico Marcelo Cavalcante teria proibido o uso de gravações e solicitado que a advogada deixasse a sala de atendimento. A partir desse momento, o soldado decidiu registrar a consulta por conta própria, o que teria gerado desconforto e discussão entre as partes. Em gravações de áudio feitas pelo próprio militar, é possível ouvir pedidos de que a perícia fosse realizada de maneira adequada.
Segundo os advogados de Lucas, ao término da avaliação — que durou cerca de oito minutos — ele teria se referido ao capitão como “você”, o que teria motivado a ordem de prisão em flagrante.
Após a prisão, a defesa acionou o advogado Mauro Ribas, que compareceu ao hospital e alegou ter identificado inconsistências nos depoimentos prestados pelo capitão e por dois tenentes presentes. Segundo ele, os relatos eram divergentes entre si e não condiziam com os áudios registrados pelo soldado.
Com base nessas discrepâncias, a defesa pediu o relaxamento da prisão, que foi concedido no dia seguinte. A advogada de Lucas afirmou em nota pública que o flagrante foi revertido diante de “graves irregularidades constatadas nos depoimentos das testemunhas e da suposta vítima”, acrescentando que o capitão e os tenentes agora figuram como investigados por denunciação caluniosa e falso testemunho.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) confirmou que o caso está sendo apurado por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). A pasta destacou que a prisão foi realizada com base no Código Penal Militar, mas que a liberação do soldado ocorreu após os esclarecimentos prestados pelas partes envolvidas.
O processo segue em tramitação, e as autoridades ainda avaliam se houve excesso por parte dos oficiais ou tentativa de desmoralização institucional. Até o momento, os militares envolvidos não se pronunciaram publicamente.