Imagine acordar, abrir os olhos e descobrir que colocar os pés no chão virou uma tarefa monumental. Tomar banho, vestir-se, ler um e-mail: tudo parece exigir esforço físico e emocional desproporcional. Para mais de 30% dos trabalhadores brasileiros, essa não é uma figura de linguagem — é a realidade devastadora da síndrome de burnout.
A condição, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como uma síndrome ocupacional, não é frescura, nem exagero. Trata-se de uma resposta crônica ao estresse mal gerenciado no trabalho, com consequências que vão da apatia total à deterioração da saúde física e mental.
Três sinais que acendem o alerta
Quem convive com burnout costuma apresentar três características centrais:
- Exaustão profunda, que não se resolve com férias ou descanso;
- Ceticismo e distanciamento, com perda de interesse e empatia pelo trabalho;
- Sensação de ineficácia, erros constantes e queda de desempenho.
E não se trata apenas de um quadro psicológico: há ligação direta com doenças como insônia, ansiedade, diabetes tipo 2, dores crônicas e até risco cardiovascular. O corpo adoece junto com a mente — silenciosamente.
Quando o trabalho vira ameaça
Embora atinja trabalhadores de diversas áreas, os mais afetados são aqueles submetidos a metas inalcançáveis, jornadas exaustivas, assédio moral ou ausência de reconhecimento. Profissionais que ultrapassam seus limites em nome da produtividade — muitas vezes com orgulho ou resignação — tornam-se candidatos perfeitos para o colapso.
A psicóloga Ana Maria Rossi, especialista em gestão de estresse, explica: “O burnout não aparece do nada. Ele é alimentado por uma cultura que valoriza o desempenho acima da saúde, que marginaliza o descanso e glorifica o excesso.”
O peso da tela: home office é solução ou armadilha?
O trabalho remoto, especialmente após a pandemia, teve efeito duplo. Para uns, ofereceu mais tempo e autonomia. Para outros, isolou, turvou os limites entre casa e trabalho e aumentou a sensação de estar sempre disponível, gerando culpa por não produzir o suficiente. O resultado? Mais pressão, menos descanso — e risco ampliado de adoecer.
Quem cuida de quem cuida?
O tratamento exige mais do que afastamento. É preciso autocuidado sistemático, apoio social verdadeiro, acompanhamento terapêutico e, quando indicado, medicação. Mas também é necessário que empresas assumam responsabilidade. A nova legislação brasileira exige que as organizações criem políticas preventivas — e, em casos de negligência, a responsabilização jurídica se tornou possível.
É o fim do “modo herói”, em que trabalhadores adoecem calados, disfarçando o sofrimento com sorrisos esvaziados.