Celso Amorim, ex-chanceler e assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, afirmou que o Brasil não deve aceitar a nova indicação de embaixador israelense em Brasília, em razão do que classificou como “genocídio” na Faixa de Gaza. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele defendeu manter as relações com Israel “em níveis mínimos” e ingressar como parte na ação movida pela África do Sul contra o governo de Benjamin Netanyahu na Corte Internacional de Justiça.
Para Amorim, é preciso diferenciar três entidades: o povo judeu, que “deu imensas contribuições à humanidade”; o Estado de Israel, que tem direito de existir e se defender; e o atual governo de Netanyahu, responsável, segundo ele, por ataques desproporcionais contra civis palestinos. “Não há razão para conceder agrément a um novo embaixador”, resumiu o diplomata.
Ele também propôs suspender — ou ao menos adotar postura “muito severa” em relação — ao acordo de livre comércio assinado em 2010 entre Brasil e Israel. Questionado sobre retaliações dos Estados Unidos, Amorim minimizou riscos: “Estamos agindo dentro da lei internacional; sanções contra ministros do STF seriam totalmente absurdas”.
Ao avaliar o BRICS, grupo que recebe sua 17ª cúpula no Rio de Janeiro, Amorim ressaltou que, apesar das ausências de líderes como Xi Jinping e Vladimir Putin, o bloco segue relevante e adaptado a novas realidades geopolíticas. Ele criticou o “unilateralismo” de Donald Trump, que, na sua visão, ameaça o sistema multilateral criado após a Segunda Guerra Mundial.
Por fim, ao comentar a falta de Xi na cúpula, Amorim garantiu que o Brasil não se ofende com a ausência do presidente chinês, ainda que reconheça sua importância para o encontro. “Tivemos duas reuniões em seis meses; ele faz falta, mas não nos causa ofensa.”