O governo de Israel está considerando a anexação de partes da Cisjordânia ocupada como reação ao movimento de países ocidentais que planejam reconhecer oficialmente o Estado palestino em setembro, segundo informações da CNN. A proposta, ainda em fase de discussão, surge após sinais de apoio à causa palestina por nações como França, Austrália, Canadá, Portugal e Reino Unido — que se somariam aos mais de 140 países que já reconhecem a Palestina.
Fontes israelenses indicam que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu iniciou conversas preliminares sobre o tema, embora nenhuma decisão oficial tenha sido tomada pelo gabinete de segurança até o momento.
Opções em análise
Entre as alternativas em estudo estão a anexação de blocos de assentamentos judaicos ou do Vale do Jordão — região estratégica ao longo do rio Jordão. Outra possibilidade seria uma anexação mais ampla da chamada Área C, que representa cerca de 60% da Cisjordânia e está sob controle militar e administrativo de Israel, conforme os Acordos de Oslo.
O ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, teria informado ao secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, sobre os planos. No entanto, Washington ainda não deu aval à medida.
Impasse político e reação internacional
A proposta divide o governo israelense. Ministros da ala mais à direita, como Bezalel Smotrich e Itamar Ben Gvir, defendem a soberania plena sobre todos os territórios não habitados por palestinos. Outros setores preferem uma abordagem gradual, que poderia ser interrompida em troca de avanços diplomáticos — como a normalização das relações com a Arábia Saudita, que exige compromissos concretos em relação à criação de um Estado palestino.
Omer Rahamim, diretor do Conselho Yesha, que representa os assentamentos judaicos, afirmou que a anexação seria uma medida preventiva:
“Ao aplicar a soberania, impediremos o estabelecimento de um Estado palestino.”
Ainda assim, a iniciativa violaria resoluções do Conselho de Segurança da ONU e poderia gerar forte reação diplomática.
Contexto histórico e novas tensões
Israel conquistou a Cisjordânia da Jordânia em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, e mantém assentamentos na região, contrariando o direito internacional. Os palestinos reivindicam a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza como base para seu futuro Estado — demanda amplamente apoiada pela comunidade internacional.
A última vez que Israel cogitou a anexação de forma concreta foi em 2020, mas Netanyahu recuou após o avanço dos Acordos de Abraão, que aproximaram o país de Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos.
Além da possível anexação, Israel também estuda sanções contra a Autoridade Palestina e a retirada de comunidades como a vila de Khan Al-Ahmar. Na semana passada, os EUA anunciaram que negarão vistos a autoridades palestinas que pretendem participar da Assembleia Geral da ONU, onde o presidente francês Emmanuel Macron deve oficializar o reconhecimento da Palestina.