O Brasil acendeu o sinal de alerta após comunicado da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o avanço acelerado da chikungunya em 2025, com risco de uma nova epidemia. Segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde, até 29 de agosto foram registrados 119.923 casos prováveis da doença, com 110 mortes confirmadas e outras 70 em investigação.
Apesar da queda de 55% em relação ao mesmo período de 2024, os números ainda são preocupantes. O índice de incidência atual é de 56,4 casos por 100 mil habitantes, e especialistas temem que os dados se aproximem dos de 2024, quando houve mais de 267 mil casos e 161 óbitos.
Mudanças climáticas e expansão do vetor
A OMS alertou que os sinais globais se assemelham aos que antecederam grandes surtos há duas décadas. A baixa imunidade coletiva e a expansão do mosquito transmissor para novas áreas são fatores críticos. A transmissão ocorre pelas fêmeas infectadas do Aedes aegypti e do Aedes albopictus — o mosquito-tigre, que tem se espalhado para regiões antes livres do vetor, impulsionado pelo aquecimento global.
Segundo o médico César Omar, da Universidade Católica de Brasília, os mosquitos se adaptaram a ambientes antes inóspitos:
“Hoje se reproduzem até em água não totalmente limpa e locais ensolarados. Os ovos resistem por meses.”
Inovação e combate
Com a resistência do Aedes aegypti a inseticidas, o foco segue na eliminação de criadouros e proteção individual. A OMS recomenda uso de roupas compridas, repelentes e mosquiteiros, especialmente nos horários de maior atividade do mosquito.
O Ministério da Saúde lançou em 2024 o Plano de Ação contra arboviroses, com foco na integração entre estados e municípios. Tecnologias como o Aedes do Bem, da Oxitec, e a bactéria Wolbachia surgem como aliadas. O primeiro utiliza mosquitos machos modificados que impedem a sobrevivência das fêmeas transmissoras. Já a Wolbachia reduz a capacidade de transmissão do vírus — em Niterói (RJ), áreas com a bactéria tiveram 56% menos casos.
“É preciso acelerar a aprovação e implementação dessas tecnologias. Elas complementam as ações tradicionais”, reforça César Omar.
Prevenção e riscos
A chikungunya provoca febre alta, dores articulares intensas e manchas na pele. Os sintomas podem durar meses, afetando principalmente idosos e pessoas com comorbidades. Embora uma vacina tenha sido aprovada pela Anvisa, ela ainda não está amplamente disponível — e foi suspensa na Europa para maiores de 60 anos por efeitos adversos.
O pesquisador André Siqueira, da Fiocruz, destaca que a prevenção continua sendo a principal arma:
“Grande parte da população nunca teve contato com o vírus. Quando ele entra em uma área com mosquito disponível, os surtos são rápidos e amplos.”