Durante visita oficial a Pequim, no dia seguinte ao desfile militar que marcou os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou que o Brasil está disposto a aprofundar sua cooperação com a China, inclusive na área militar. A declaração acompanha a decisão inédita de enviar oficiais-generais como adidos militares à embaixada brasileira em Pequim — um gesto simbólico que sinaliza uma nova fase nas relações bilaterais.
“Quando o Exército resolve mandar um oficial-general como adido para cá, é porque tem uma disposição de intensificar a cooperação”, disse Amorim.
Segundo o assessor, a parceria entre os dois países já se estende a áreas como tecnologia espacial, mas pode avançar para investimentos, transferência de produção e cooperação financeira. Amorim destacou que o estreitamento dos laços ocorre em um contexto de enfraquecimento do sistema multilateral, agravado pela guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Tarifas e tensões diplomáticas
Amorim também comentou sobre a dificuldade de negociar com os EUA, após encontro em Washington onde diplomatas americanos confirmaram que as tarifas impostas ao Brasil têm motivação política.
“É possível negociar, mas não é uma negociação econômica, é uma negociação política. Gente, é uma coisa muito assustadora”, afirmou.
Ele alertou para os riscos de uma política de reciprocidade, comparando o cenário atual ao período entre as duas guerras mundiais, que contribuiu para a depressão econômica e o início da Segunda Guerra Mundial.
Diálogo global e preocupações regionais
Durante sua estada, Amorim entregou uma carta do presidente Lula a Xi Jinping e se reuniu com o chanceler chinês Wang Yi. Os temas abordados incluíram os conflitos na Ucrânia e Gaza, o impacto das tarifas americanas e a nova proposta chinesa de reforma da governança global.
“Falar em uma iniciativa de reforma da governança global é música para os nossos ouvidos”, disse Amorim.
Questionado sobre o envio de navios de guerra dos EUA à costa da Venezuela, Amorim evitou especulações, mas expressou preocupação com a presença militar americana na região.
“Não ajuda na boa relação entre a América Latina e os Estados Unidos, que é muito importante”, concluiu.