Mais de 1.300 artistas internacionais, incluindo nomes de peso como Ayo Edebiri, Mark Ruffalo, Riz Ahmed, Tilda Swinton, Olivia Colman e Javier Bardem, anunciaram nesta segunda-feira (8) um boicote a instituições cinematográficas israelenses. A iniciativa, formalizada por meio de uma carta pública, denuncia o que os signatários chamam de “horror implacável” em Gaza, onde mais de 64 mil palestinos foram mortos e grande parte do território foi destruída por ataques israelenses.
O documento, assinado também por cineastas como Mike Lerner, indicado ao Oscar, afirma que os artistas se comprometem a não exibir filmes, participar de festivais ou colaborar com instituições israelenses ligadas à indústria do cinema. Segundo os signatários, essas entidades estariam “implicadas em genocídio e políticas de apartheid” contra o povo palestino.
Inspirado no movimento “Filmmakers United Against Apartheid”, que boicotou a África do Sul durante o regime segregacionista, o texto condena ações que “branqueiam ou justificam” crimes contra os palestinos e critica qualquer colaboração com o governo israelense.
Cinema como ferramenta de resistência
A carta também faz referência a decisões do Tribunal Internacional de Justiça, que consideram plausível a acusação de genocídio contra Israel e classificam a ocupação dos territórios palestinos como ilegal. Ao longo dos últimos 23 meses, organizações de direitos humanos, acadêmicos e especialistas da ONU têm reforçado essas denúncias.
Para Mike Lerner, o boicote representa uma forma de resistência não violenta. “É responsabilidade de cada artista usar sua voz para combater esse horror”, declarou. O movimento se soma a uma crescente onda de críticas à política israelense dentro da indústria cinematográfica, que já levou artistas como Susan Sarandon a enfrentarem represálias por se manifestarem publicamente.
Mudança de narrativa em Hollywood
Embora Hollywood tenha historicamente apoiado Israel — com produções como Exodus (1960), que exaltava a fundação do Estado israelense —, o apoio à causa palestina tem ganhado força. Em março, o documentário No Other Land, sobre a destruição da comunidade palestina de Masafer Yatta, venceu o Oscar de Melhor Documentário. Mais recentemente, The Voice of Hind Rajab, que retrata a morte de uma menina palestina de cinco anos, recebeu uma ovação de 23 minutos no Festival de Veneza.
O boicote surge em meio à destruição sistemática de Gaza City, cuja infraestrutura foi amplamente devastada. “Reconhecemos o poder do cinema em moldar percepções”, diz o comunicado. “Neste momento de crise, devemos fazer tudo o que pudermos para enfrentar a cumplicidade nesse massacre.”