Durante sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados realizada nesta quarta-feira (10), a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e seus aliados adotaram estratégias para desqualificar o hacker Walter Delgatti Netto, figura central no processo que pode levar à cassação do mandato da parlamentar. A reunião teve como foco a oitiva de testemunhas e a análise das acusações que envolvem a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ocorrida em janeiro de 2023.
Delgatti reafirmou que Zambelli o teria instruído a realizar a invasão, com o objetivo de inserir um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A parlamentar, condenada a 10 anos de prisão como mandante do crime, participou da sessão por videoconferência, diretamente da Itália, onde enfrenta processo de extradição.
Durante os debates, Zambelli acusou o hacker de mentir sobre visitas ao Ministério da Defesa e sobre ter permanecido em sua residência. Delgatti rebateu, afirmando que há registros em vídeo que comprovam sua estadia e que as contradições apontadas pela defesa dizem respeito apenas a datas, não ao conteúdo das declarações.
Parlamentares favoráveis à cassação alegam que a convocação de testemunhas é uma manobra para atrasar o processo, que ainda não tem prazo definido para conclusão. O relator, deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), admitiu a possibilidade de solicitar os autos completos do processo, o que pode ampliar o tempo de análise.
Aliados de Zambelli também questionaram se Delgatti possui provas materiais das ordens recebidas. O hacker respondeu que apagava mensagens diariamente por estar proibido de acessar a internet, mas que a Polícia Federal teria encontrado evidências no celular da deputada.
Outro ponto levantado foi a emissão de alvarás de soltura por meio de um robô criado por Delgatti para testar o sistema antes de inserir o mandado de prisão falso. Ele explicou que os alvarás não foram comunicados às Varas Judiciais e, portanto, não resultaram na liberação de presos.
Durante a sessão, aliados da deputada tentaram associar o hacker a vídeos de pedofilia encontrados em um de seus computadores. Delgatti negou envolvimento, afirmando que nunca acessou os arquivos e que eles foram obtidos ao invadir sistemas de outros hackers, como parte de sua estratégia para aprender técnicas de invasão.
A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) classificou as oitivas como abuso de prerrogativa, defendendo que a cassação deveria ser conduzida diretamente pela presidência da Câmara. Já o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, afirmou que Zambelli é alvo de perseguição política e que o partido atuará para impedir a perda de seu mandato.