Acareação no STF expõe contradições entre Braga Netto e Mauro Cid

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Mauro Cid e Braga Netto durante os interrogatórios no STF — Foto: Ton Molina/STF; Reprodução

A acareação realizada nesta terça-feira (24) no Supremo Tribunal Federal (STF) entre o general da reserva Walter Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid marcou um novo capítulo nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. Por quase duas horas, os dois foram colocados frente a frente no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que apura a atuação do chamado “núcleo crucial” da suposta organização criminosa.

Ambos são réus no processo. Mauro Cid firmou acordo de colaboração premiada e tem fornecido informações consideradas sensíveis à investigação, enquanto Braga Netto está preso preventivamente em uma unidade militar no Rio de Janeiro desde maio. Para comparecer à audiência, o ex-ministro da Defesa usou tornozeleira eletrônica e foi escoltado à capital federal.

A sessão buscou esclarecer divergências entre os depoimentos prestados por Cid e Braga Netto. Segundo fontes ligadas ao caso, os pontos de conflito envolvem a suposta convocação de comandantes militares para reuniões clandestinas e a presença de documentos que detalhavam planos de intervenção institucional. A acareação, prevista no Código de Processo Penal, permite confrontar versões contraditórias diante da autoridade judicial.

Após o encontro entre os dois militares, teve início uma segunda acareação — desta vez entre o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, este último ouvido como testemunha. A iniciativa partiu das defesas dos réus, que alegam a existência de inconsistências graves nos relatos apresentados até o momento.

Braga Netto, apesar da patente elevada e histórico como ministro e candidato à vice-presidência da República, vê-se agora no centro de acusações graves. Além de ser apontado como articulador de tratativas golpistas, há suspeitas de que teria pressionado integrantes das Forças Armadas a aderirem a um plano de ruptura institucional. Cid, por sua vez, teria atuado como elo entre os militares e o núcleo político do grupo, liderado por Jair Bolsonaro, que também é investigado.

A expectativa é que as informações obtidas nas acareações sirvam para reforçar a materialidade dos autos e subsidiar novas decisões judiciais, inclusive sobre a manutenção de prisões preventivas e o oferecimento de novas denúncias. A Procuradoria-Geral da República acompanha de perto o desenrolar dos depoimentos.

O julgamento principal ainda não tem data para ser iniciado, mas os desdobramentos das diligências desta terça-feira devem influenciar diretamente o ritmo do processo, que pode consolidar precedentes importantes sobre crimes contra o Estado democrático de Direito.

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