Aliados de Trump já estão em conversas secretas com opositores de Zelensky na Ucrânia

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JIM WATSON|TETIANA DZHAFAROVA|AFP|Getty Images)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem intensificado a pressão sobre Volodymyr Zelensky em busca de uma solução rápida para a guerra na Ucrânia, mesmo que isso envolva concessões significativas ao Kremlin. Como parte dessa estratégia, quatro membros próximos a Trump mantiveram conversas secretas com figuras da oposição ucraniana, incluindo a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko e membros do partido do ex-presidente Petro Poroshenko. A informação foi revelada pelo portal Politico, que obteve detalhes exclusivos sobre essas negociações.

De acordo com três parlamentares ucranianos e um especialista republicano em política externa, as discussões se centraram na possibilidade de realizar eleições presidenciais antecipadas na Ucrânia, atualmente inviáveis devido à lei marcial imposta após a invasão russa. Embora críticos acreditem que um pleito neste momento poderia desestabilizar o país e favorecer Moscou, aliados de Trump veem o desgaste da guerra e as denúncias de corrupção como fatores que minaram o apoio a Zelensky, tornando sua derrota uma possibilidade real.

A administração Trump, oficialmente, nega qualquer interferência na política interna da Ucrânia. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmou que o presidente “não está se envolvendo na política ucraniana” e que seu único objetivo é encontrar um “parceiro para a paz”. Contudo, as movimentações nos bastidores e as declarações de Trump sugerem um cenário diferente. O presidente norte-americano tem criticado Zelensky como um “ditador sem eleições”, enquanto a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, propagou a falsa narrativa de que Kiev havia cancelado as eleições.

Apesar disso, pesquisas recentes mostram que Zelensky segue como o candidato mais forte, superando os adversários da oposição. Segundo uma pesquisa da empresa britânica Survation, realizada logo após um encontro tenso entre Zelensky e Trump na Casa Branca, o atual presidente ucraniano mantém 44% das intenções de voto, enquanto seu principal rival, Valery Zaluzhny, ex-comandante militar e atual embaixador do Reino Unido, tem pouco mais de 20%. Petro Poroshenko tem 10%, e Tymoshenko aparece com menos de 6%.

Apoio russo à estratégia de Donald Trump

O Politico revela que as conversas entre a oposição ucraniana e a equipe de Trump se intensificaram nas últimas semanas, com a ideia de realizar as eleições antes de iniciar qualquer negociação formal de paz. O Kremlin, que há anos deseja a saída de Zelensky, também apoia a realização de eleições antecipadas, criando uma convergência de interesses que gera preocupação em Kiev. Embora publicamente se oponham à realização de eleições durante a guerra, Tymoshenko e Poroshenko mantêm canais de diálogo abertos com os norte-americanos. “Poroshenko e Yulia estão todos conversando com Trump, se posicionando como opções mais maleáveis, mais fáceis de trabalhar, e dispostos a aceitar muitas das condições que Zelensky rejeita”, afirmou um especialista republicano ao Politico, sob anonimato.

Enquanto o futuro político de Zelensky se torna incerto, o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, também tem se oposto à realização de eleições antes do fim do conflito. Outros líderes políticos, como Dmytro Razumkov, ex-líder do partido de Zelensky, também demonstram disposição para estabelecer um canal direto com Trump e sua equipe.

Pressão de Washington e riscos para Zelensky

A estratégia do governo Trump ficou ainda mais clara após a Casa Branca suspender temporariamente a ajuda militar a Kiev. O presidente norte-americano sugeriu em declarações recentes que Zelensky “não estará por muito tempo” no poder caso não aceite os termos de Washington para um acordo de paz. O conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, reforçou essa posição, dizendo que os EUA precisam de “um líder que possa lidar conosco, eventualmente lidar com os russos e encerrar esta guerra”.

Diante desse cenário, políticos ucranianos têm intensificado esforços para se aproximar de Trump. O analista político ucraniano Ruslan Bortnik comentou ao Politico que “as elites estão desorientadas e chocadas, pois sabem que, sem o apoio dos EUA, a Ucrânia será derrotada”. As movimentações nos bastidores visam garantir que Kiev mantenha boas relações com Washington, mesmo que isso envolva mudanças na liderança do país.

Zelensky parece estar ciente de que sua posição está sob ameaça. Durante uma visita recente a Londres, ele ironizou as especulações sobre sua saída, dizendo que “teriam que impedir” sua participação em qualquer eleição. No entanto, em tom mais sério, ele admitiu que lamenta o tom agressivo adotado na última reunião com Trump e que está disposto a buscar um entendimento com o presidente norte-americano.

O cenário político na Ucrânia segue instável, e os próximos meses serão cruciais para definir o futuro de Zelensky e da guerra. Com aliados internos buscando novas alianças e Trump pressionando por mudanças, a estabilidade do governo ucraniano está mais ameaçada do que nunca.

Fonte: Redação

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