A escalada das tensões entre Estados Unidos e Irã provocou uma forte aversão ao risco entre investidores neste fim de semana, levando o Bitcoin a cair abaixo de US$ 99 mil — seu menor valor desde maio. A queda foi impulsionada por temores geopolíticos e pela perspectiva de alta na inflação global, afetando diretamente os mercados de ativos digitais.
Neste domingo (22), a principal criptomoeda do mercado operava em torno de US$ 99.380, com perda superior a 2% nas últimas 24 horas. Altcoins como ether, Solana, XRP e dogecoin também registraram perdas acentuadas, ampliando a liquidação generalizada de posições. Dados da CoinGlass apontam que mais de US$ 1 bilhão em posições foram liquidadas em plataformas como Binance e Bybit, com mais de 95% dessas liquidações partindo de apostas em alta (“longs”).
O gatilho para a instabilidade foi o anúncio de ataques dos EUA contra alvos iranianos, o que reacendeu o temor de um bloqueio do Estreito de Ormuz — rota vital para cerca de 20% do petróleo comercializado no mundo. Segundo projeções do JPMorgan, um fechamento total da passagem poderia elevar o preço do barril para até US$ 130. Isso colocaria em risco o controle da inflação global, especialmente nos Estados Unidos, onde os mercados temem um eventual retorno aos patamares de 5% ao ano, não vistos desde março de 2023.
Ainda que o Bitcoin seja promovido por seus defensores como proteção contra inflação, o comportamento recente o aproxima mais de ativos de risco, como ações de tecnologia. Dados da empresa de análise Kaiko mostram que a correlação entre Bitcoin e o índice Nasdaq subiu significativamente nas últimas semanas, após um período de forte entrada de capital em ETFs da criptomoeda.
Os fluxos para esses ETFs, que haviam somado mais de US$ 1 bilhão na primeira metade da semana, praticamente desapareceram entre quinta e sexta-feira — coincidindo com a saída antecipada de Donald Trump do encontro do G7 e a sinalização de uma nova revisão estratégica da política externa norte-americana em relação ao Irã.
No plano técnico, o rompimento do suporte de US$ 99 mil acentuou a venda forçada de posições alavancadas. Analistas veem esse episódio como um lembrete da fragilidade estrutural do mercado de criptomoedas frente a choques externos — e da dependência crescente de fatores macroeconômicos e geopolíticos.