O presidente da China, Xi Jinping, liderou nesta quarta-feira (3) o maior desfile militar da história do país, realizado na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Ao lado dos presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Kim Jong Un (Coreia do Norte), Xi celebrou os 80 anos da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. O evento, marcado por forte simbolismo, não contou com a presença de líderes ocidentais.
Em seu discurso de abertura, Xi declarou que o mundo vive um momento decisivo, entre “paz ou guerra, diálogo ou confronto”, e afirmou que a China “permanece firmemente do lado certo da história”.
Tecnologia militar e espetáculo visual
Xi percorreu a praça em uma limusine conversível, inspecionando tropas e armamentos de última geração, como mísseis hipersônicos, drones submarinos e até um “lobo robótico” armado. A cerimônia de 70 minutos incluiu helicópteros com bandeiras, caças em formação e o lançamento de 80 mil pombas da paz.
Vestindo um traje inspirado em Mao Tsé-tung, Xi recebeu cerca de 25 líderes estrangeiros, incluindo o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto. Sua esposa, Peng Liyuan, foi vista cumprimentando convidados em inglês, reforçando o tom diplomático do evento.
Foi a primeira vez em 66 anos que um líder norte-coreano participou de um desfile militar chinês, sinalizando uma aproximação inédita entre os três países.
Reações internacionais e críticas regionais
O presidente dos EUA, Donald Trump, reagiu com ironia ao evento em sua rede Truth Social, dizendo: “Transmitam meus mais calorosos cumprimentos a Vladimir Putin e Kim Jong Un, enquanto conspiram contra os Estados Unidos da América”. Apesar da crítica, Trump minimizou o impacto da parada.
O Japão evitou comentar, enquanto Taiwan orientou sua população a não participar. O presidente taiwanês, Lai Ching-te, criticou duramente o desfile: “Taiwan não comemora a paz pelo cano de uma arma”.
Xi e a nova ordem mundial
Xi reforçou sua visão de que a Segunda Guerra marcou o início da “grande revitalização da nação chinesa”. Em encontros recentes, condenou o “hegemonismo e a política de poder”, em crítica indireta aos Estados Unidos.
“Xi sente-se confiante de que a mesa virou. É a China que agora está no banco do motorista”, avaliou Wen-Ti Sung, do Atlantic Council.
Durante o banquete pós-desfile, Xi voltou a defender uma ordem global baseada em diálogo e cooperação, rejeitando o retorno à “lei da selva”.
Alianças militares e acordos estratégicos
A presença de Putin e Kim pode indicar uma aproximação militar entre os três países. A agência russa TASS informou que uma reunião entre Putin e Kim estava sendo preparada. Putin também aproveitou a visita para fechar novos acordos energéticos com Pequim, enquanto Kim buscava apoio para seu programa nuclear.
Kim viajou acompanhado de sua filha, Ju Ae, apontada por analistas sul-coreanos como possível sucessora, embora não tenha aparecido publicamente durante o desfile.
Modernização militar e desafios internos
O desfile também serviu para exibir os avanços tecnológicos do Exército Popular de Libertação, em meio a uma campanha anticorrupção que afastou mais de uma dúzia de generais próximos a Xi nos últimos dois anos.
“O evento permite que Xi concentre a atenção do mundo nos avanços militares, ao mesmo tempo em que obscurece os desafios internos”, avaliou Jon Czin, do Brookings Institution.
Além da política externa, o desfile teve forte apelo patriótico. Servidores públicos foram instruídos a assistir à cerimônia e registrar suas reflexões. Xi encerrou o discurso com uma mensagem enfática:
“A revitalização da nação chinesa é imparável.”