Uma equipe médica brasileira realizou em agosto, em Goiânia, um procedimento inédito no país para tratar depressão resistente associada à dor crônica. A técnica, conhecida como estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês), consiste na implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro com o objetivo de modular circuitos neurais ligados ao sofrimento físico e emocional.
A cirurgia foi aplicada em dois alvos simultâneos: a substância cinzenta periaquedutal e o feixe prosencefálico medial. Essas regiões estão envolvidas na percepção da dor e na regulação do humor. O procedimento, já utilizado há décadas para tratar Parkinson, tremores essenciais e distonias, começa a ser testado em pacientes psiquiátricos que não respondem a tratamentos convencionais.
A estimulação cerebral profunda oferece modulação contínua e reversível da atividade elétrica cerebral. Os eletrodos implantados são conectados a um neuroestimulador instalado no tórax, semelhante a um marca-passo, que envia impulsos elétricos programados para reequilibrar os circuitos afetados.
A técnica exige planejamento minucioso com uso de neuroimagem de alta precisão, devido à complexidade das redes cerebrais envolvidas na depressão. O efeito terapêutico é gradual e pode levar meses, com necessidade de ajustes constantes nos parâmetros de estimulação.
Embora ainda considerada experimental para casos psiquiátricos, a DBS representa uma alternativa promissora para pacientes que não obtêm melhora com medicamentos, psicoterapia, eletroconvulsoterapia ou estimulação magnética transcraniana. O acompanhamento clínico e psiquiátrico permanece essencial após a cirurgia, incluindo avaliação ética e consentimento informado.