Um estudo publicado nesta semana na revista científica The Lancet revelou que o avanço da vacinação infantil no mundo estagnou desde 2010 — e, em muitos países, chegou a regredir. A situação se agravou ainda mais com a pandemia de Covid-19, segundo os pesquisadores.
Entre 2020 e 2023, cerca de 15,6 milhões de crianças não completaram as três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche, e quase 16 milhões não receberam nenhuma dose contra poliomielite. Também houve perdas significativas na cobertura de vacinas contra sarampo, tuberculose, rotavírus e pneumonia.
O levantamento, conduzido pelo Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, identificou que a estagnação atinge principalmente países de baixa e média renda. África Subsaariana e Sul da Ásia concentram mais da metade das crianças não vacinadas no mundo.
O Brasil aparece entre os oito países com maior número de crianças sem vacinas básicas em 2023 — aproximadamente 452 mil. Nigéria, Índia, República Democrática do Congo e Etiópia lideram a lista.
Os pesquisadores destacam ainda a influência da desinformação, da hesitação vacinal e de fatores como conflitos armados, deslocamentos populacionais e instabilidade econômica como entraves adicionais à imunização infantil.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) havia estabelecido, por meio da Agenda de Imunização 2030, a meta de atingir 90% de cobertura global para vacinas essenciais e reduzir pela metade o número de crianças com “dose zero” — aquelas que não recebem nenhuma imunização no primeiro ano de vida.
No entanto, os autores do estudo alertam que, se não houver medidas específicas e campanhas direcionadas, essas metas dificilmente serão alcançadas. Apenas a vacina tríplice contra difteria, tétano e coqueluche tem chances reais de se aproximar da meta, e isso em um cenário considerado otimista.
O estudo defende que melhorar a cobertura vacinal mundial exigirá estratégias adaptadas a cada país, com foco em fortalecer a atenção primária à saúde e combater a hesitação com informação confiável. “Apesar dos avanços das últimas décadas, ainda há milhões de crianças sem acesso a uma das intervenções mais eficazes da saúde pública”, concluem os autores.