Mensagens trocadas entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foram incluídas no relatório da Polícia Federal que embasou o indiciamento de ambos por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e coação no curso do processo. O documento foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) e faz parte das investigações sobre uma suposta trama golpista.
O relatório revela tensões entre pai e filho relacionadas ao apoio de Jair Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Em mensagens datadas de junho e julho de 2025, Eduardo expressa preocupação com a possibilidade de Tarcísio ser visto como sucessor político de seu pai, o que, segundo ele, poderia prejudicar ações em curso nos Estados Unidos voltadas à pressão sobre o STF.
Em uma das mensagens, Eduardo afirma que “Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF” e que “se quiser acessar a Casa Branca ele não conseguirá”. O deputado também critica o que considera uma tentativa de Tarcísio de se posicionar como solução política, dizendo que isso “apenas resolveria a vida do pessoal da Faria Lima”.
O tom das conversas se intensifica em julho, quando Eduardo xinga o pai após ser chamado de imaturo. Em uma mensagem, o deputado escreve em caixa alta: “VTNC SEU INGRATO DO C*!”, demonstrando insatisfação com o tratamento recebido e com a condução política do ex-presidente.
O pastor Silas Malafaia também aparece nas conversas, repreendendo Eduardo Bolsonaro e incentivando Jair Bolsonaro a assumir publicamente a defesa da anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2022. Malafaia afirma que a “faca e o queijo” estão nas mãos do ex-presidente e que ele deveria aproveitar o apoio de Donald Trump para pressionar por medidas políticas.
Em resposta, Bolsonaro reconhece que a anistia é central nas negociações e afirma que tem conversado com aliados sobre o tema, mas evita se expor diretamente.
A PF encontrou no celular de Jair Bolsonaro um documento de 33 páginas cogitando um pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei. O texto, sem assinatura e datado de dezembro de 2023, menciona perseguição política e medidas cautelares impostas pelo STF. A última edição do arquivo ocorreu dois dias antes da viagem de Bolsonaro à posse de Milei.
Segundo o relatório, o documento poderia ter sido utilizado para viabilizar a saída do ex-presidente do Brasil diante das investigações em curso. A autoria do arquivo é atribuída a “Fernanda Bolsonaro”, possivelmente Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, nora do ex-presidente.