A escalada que deveria ser apenas mais um desafio técnico para o experiente montanhista Edson Vandeira, de 36 anos, terminou em tragédia no Peru. Após mais de 20 dias desaparecido, o corpo do brasileiro foi encontrado neste domingo (22) junto aos dois companheiros peruanos com quem subia o Nevado Artesonraju, uma das montanhas mais temidas da Cordilheira Blanca, com 6.025 metros de altitude.
Edson, natural de Niterói (RJ), era guia de alta montanha, fotógrafo premiado e acumulava no currículo expedições aos Andes, Himalaia e Antártida, onde trabalhou por anos na segurança de cientistas. Iniciou o montanhismo aos 19 anos e era reconhecido pela comunidade como técnico, preparado e apaixonado por ambientes extremos.
A expedição começou no dia 29 de maio. O trio — formado também pelos peruanos Efraín Pretel Álonzo e Jesús Huerta Picón — planejava atingir o cume do Artesonraju durante a madrugada do dia 1º de junho. Tudo indicava que eles chegaram ao topo, pois luzes foram vistas por colegas na crista da montanha. Mas a descida, técnica e cheia de obstáculos, exigia quatro rapeis seguidos — e algo deu errado.
Desde então, nenhuma comunicação foi registrada. A barraca onde eles deveriam se abrigar foi encontrada vazia, o que indicava que o grupo sofreu o acidente após o ataque ao cume.
As buscas mobilizaram a Polícia de Alta Montanha do Peru, colegas guias e organizações de socorro andino. Com apoio da Associação de Guias de Montanha do Peru (AGMP), o resgate só avançou após o uso de helicóptero, solicitado ao Ministério da Defesa do país.
A retirada dos corpos é um desafio à parte: a região é de difícil acesso e com alta instabilidade climática. A comunidade de montanhismo no Brasil acompanha o caso com pesar e indignação diante da demora e das condições limitadas das equipes locais.
Além da paixão por escalar, Edson era um artista das montanhas. Participou de nove expedições à Antártida, publicou fotos na National Geographic e foi finalista do Wildlife Photographer of the Year em 2021, um dos prêmios mais prestigiados da fotografia de natureza. Documentava cada escalada com sensibilidade e atenção ao detalhe.
Com o corpo encontrado, agora a família busca viabilizar o translado — e homenagear a vida de um brasileiro que fez das altitudes sua morada.