Dia do Trabalhador: uma história de luta e apropriação

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Comício em Porto Alegre em homenagem a Getúlio Vargas, sem data definida — Foto: Arquivo Nacional via BBC

O Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, é uma data que carrega significados profundos e contraditórios. Originalmente marcado por protestos e reivindicações, o feriado foi apropriado ao longo do tempo por diferentes governos, transformando-se em uma celebração institucionalizada.

A data tem suas raízes em Chicago, nos Estados Unidos, onde, em 1886, trabalhadores realizaram uma greve histórica para exigir a jornada de trabalho de 8 horas. O movimento culminou em confrontos violentos, mas deixou um legado que se espalhou pelo mundo. Em 1889, a Segunda Internacional Socialista oficializou o 1º de maio como o Dia Internacional dos Trabalhadores.

No Brasil, as primeiras celebrações ocorreram no final do século XIX, impulsionadas por imigrantes europeus que trouxeram ideias anarquistas e socialistas. Em Santos, em 1895, trabalhadores portuários organizaram a primeira manifestação registrada. A data era marcada por protestos e greves, como a histórica Greve Geral de 1917, que mobilizou cerca de 70 mil pessoas em São Paulo.

Artur Bernardes foi presidente entre 1922 e 1926 — Foto: Arquivo nacional via BBC

Em 1924, o presidente Artur Bernardes oficializou o 1º de maio como feriado nacional. Porém, foi durante o governo de Getúlio Vargas que a data passou por uma grande transformação. Vargas alterou o protagonismo do feriado: o Dia do Trabalhador passou a ser chamado de Dia do Trabalho, deslocando o foco das reivindicações dos trabalhadores para uma celebração patriótica.

Dentro de seu projeto populista, Vargas criou o Ministério do Trabalho, legalizou sindicatos e passou a controlar as manifestações dos trabalhadores. Em vez de protestos espontâneos, o governo começou a organizar grandes eventos oficiais com desfiles, discursos patrióticos e anúncios de benefícios, como o salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sancionada em 1943.

Primeira página da Consolidação das Leis do Trabalho, instrumento de regulamentação do trabalho e um dos pilares fundamentais da popularidade de Getúlio Vargas entre trabalhadores urbanos — Foto: Arquivo nacional/ BBC

Essa estratégia fazia parte de um esforço para cooptar o movimento trabalhista, atrelando os sindicatos ao Estado e esvaziando o caráter reivindicatório da data. A bandeira comunista e anarquista, que antes era símbolo do movimento, foi substituída pela bandeira nacional. Vargas passou a se apresentar como o “pai dos trabalhadores”, transformando direitos em concessões do Estado.

Nas últimas décadas, o Dia do Trabalhador perdeu força como um dia de luta. Festividades promovidas por sindicatos e governos muitas vezes se assemelham a shows e eventos de lazer, afastando-se das questões políticas e sociais que deram origem à data.

No entanto, o contexto atual, marcado por debates sobre a jornada de trabalho e direitos trabalhistas, oferece uma oportunidade para resgatar o espírito original do 1º de maio. A proposta de redução da jornada 6 por 1, defendida pelo presidente Lula, é um exemplo de como a data pode voltar a ser um espaço de discussão e transformação.

O Dia do Trabalhador é mais do que um feriado; é um símbolo de resistência e mudança. Sua história no Brasil expõe  as tensões entre luta e apropriação, reivindicação e celebração. Resgatar seu significado original é essencial para garantir que os direitos dos trabalhadores continuem sendo uma prioridade.

Fonte: Redação

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