DoxiPEP é avaliada como estratégia preventiva contra ISTs

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Estratégia de profilaxia pós-exposição com antibiótico reduz caso de IST • jcomp/Freepik

A doxiciclina, antibiótico tradicionalmente utilizado no tratamento de diversas infecções, está sendo estudada como ferramenta de profilaxia pós-exposição sexual para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A estratégia, conhecida como DoxiPEP, consiste na ingestão de 200 mg do medicamento em até 72 horas após uma relação sexual considerada de risco.

Estudos realizados em 2024 indicaram que o uso da DoxiPEP reduziu em 70% os casos de sífilis e clamídia, e em 50% os de gonorreia, entre voluntários que já utilizavam a PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV). Os participantes pertenciam a grupos considerados prioritários, como homens que fazem sexo com homens e mulheres trans, que apresentam maior vulnerabilidade às ISTs.

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Apesar dos resultados promissores, especialistas alertam para o risco de desenvolvimento de resistência bacteriana. A infectologista Fernanda Pedrosa Torres, do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que o uso preventivo da doxiciclina ainda é objeto de debate entre profissionais da saúde. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) autoriza a prescrição da DoxiPEP apenas para pessoas que tenham sido diagnosticadas com sífilis, clamídia ou gonorreia nos últimos 12 meses.

No Brasil, ainda não há diretrizes oficiais sobre o uso da DoxiPEP. O Ministério da Saúde abriu uma consulta pública para reunir relatos de pacientes que já utilizam o medicamento de forma off-label, ou seja, fora das indicações da bula. A coleta de informações será analisada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), que avaliará a possibilidade de inclusão da estratégia no sistema público de saúde.

A infectologista Gisele Cristina Gosuen, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), ressalta que os estudos sobre a DoxiPEP ainda são iniciais e que o principal risco é o surgimento de cepas resistentes, especialmente no caso da gonorreia. Por outro lado, não há evidências de resistência significativa em casos de sífilis, clamídia e micoplasma.

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Além da resistência, os efeitos adversos da doxiciclina também são considerados. Entre os sintomas mais comuns estão náuseas, diarreia, sensibilidade à luz e dores musculares e articulares. Estudos indicam que cerca de 20% dos voluntários descontinuaram o uso devido a esses efeitos.

Especialistas reforçam que, mesmo com o uso da DoxiPEP, o preservativo continua sendo uma ferramenta essencial na prevenção de ISTs. A proposta é que a profilaxia seja integrada a outras estratégias, como a PrEP, exames regulares e acompanhamento médico.

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