Durante uma live com seguidores, o rapper Oruam falou abertamente sobre a possível libertação de seu pai, Marcinho VP, preso desde 1996. Em tom confessional, o artista questionou o motivo pelo qual o pai continua sendo mantido no sistema penitenciário, mesmo após quase três décadas de reclusão. “Meu pai vai sair em breve. Ele já não deve mais nada, mas a instituição não solta ele. Parece que a mídia fica colocando ele como ‘vilãozão’ para sempre”, declarou o cantor.
Oruam, que nasceu cinco anos após a prisão do pai, afirma nunca ter convivido com ele. Apesar disso, tem feito da figura paterna um símbolo constante em sua trajetória pública — com destaque para a apresentação no Lollapalooza 2024, quando subiu ao palco usando uma camiseta com o rosto de Marcinho e a palavra “liberdade”, o que gerou reações intensas e deu origem a projetos de lei apelidados de “Lei Anti-Oruam”, que pretendem restringir a realização de eventos com apologia ao crime.
Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, está há 29 anos cumprindo pena por tráfico de drogas, homicídios e associação criminosa, crimes atribuídos à sua atuação no Comando Vermelho, no Complexo do Alemão. Atualmente, está detido no presídio federal de segurança máxima de Campo Grande (MS), onde cumpre uma sentença de 48 anos, 6 meses e 20 dias.
Porém, segundo a legislação brasileira, com o cumprimento de parte significativa da pena e bom comportamento, Marcinho poderá solicitar progressão de regime e pode deixar a prisão em outubro de 2026. Esse dado, raramente destacado nos noticiários, tem servido de munição para seus defensores.
Apologia ou reivindicação familiar?
As manifestações públicas de Oruam têm dividido opiniões: se por um lado artistas e fãs defendem o direito de o filho reivindicar dignidade e memória de quem nunca conheceu pessoalmente, setores conservadores o acusam de apologia ao crime. O rapper, no entanto, diz que usa sua plataforma para “humanizar” uma figura demonizada há décadas.
“Muita gente me julga, mas eu nunca tive foto, abraço ou convivência com ele. Falo como filho. Isso me pertence. Minha arte fala sobre isso também”, explicou em entrevistas anteriores.
Além da live recente, vídeos antigos do cantor mostram declarações semelhantes, nos quais ele afirma que o país precisa “rever quem é herói e quem é vilão”, apontando a seletividade com que a justiça e a mídia lidam com figuras do tráfico versus figuras do poder público.