Especialistas criticam ameaça dos EUA ao Brasil e apontam risco à soberania nacional

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Karoline Leavitt (Foto: Reuters/Kevin Mohatt)
Karoline Leavitt (Foto: Reuters/Kevin Mohatt)

A declaração da porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, de que os Estados Unidos não descartam o uso de força militar contra o Brasil para “proteger a liberdade de expressão”, gerou forte reação entre especialistas em política internacional e constitucionalistas. A fala foi feita na terça-feira (9), em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), e provocou repúdio do governo brasileiro.

Carlos Poggio, professor de relações internacionais da PUC-SP, classificou a declaração como “impetuosa” e sem fundamento estratégico. Segundo ele, a administração Trump costuma fazer ameaças que não se concretizam, como no caso da Rússia. “É um governo que não tem credibilidade naquilo que concebe as palavras”, afirmou.

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O Itamaraty reagiu com uma nota oficial, condenando qualquer tentativa de intimidação. “Os Poderes da República não se intimidarão por qualquer forma de atentado à nossa soberania”, declarou o Ministério das Relações Exteriores.

Camila Rocha, doutora em Ciência Política pela USP, alertou que o Brasil possui recursos estratégicos que podem estar no centro de interesses externos. Para ela, o discurso sobre liberdade de expressão pode servir como justificativa para ações econômicas e políticas dos EUA. “É uma retórica que encobre outros interesses”, disse.

Pierpaolo Cruz Bottini, professor da Faculdade de Direito da USP, considerou a ameaça “inexplicável” e incompatível com os princípios democráticos. Já Gabriel Sampaio, da ONG Conectas, apontou que a fala representa uma tentativa de interferência estrangeira no Judiciário brasileiro e pode configurar atentado à soberania nacional.

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Paulo José Lara, da ONG Artigo 19, afirmou que a ameaça se insere em uma estratégia autoritária da administração Trump para desestabilizar o multilateralismo. “É um ataque à nossa região, que vem sendo assediada de maneira crescente”, declarou. Ele também criticou o uso de conceitos como liberdade e democracia como justificativa para ações de interesse político e econômico.

A repercussão da declaração evidencia o clima de tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos, e levanta preocupações sobre o respeito à soberania nacional e à independência das instituições democráticas.

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