Estudo sugere relação entre Ozempic, Wegovy e doença ocular grave

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A semaglutida, que é o componente principal do Ozempic, retarda o esvaziamento gástrico, levando ao emagrecimento • NurPhoto/GettyImages

Uma nova pesquisa publicada na revista JAMA Ophthalmology aponta uma possível ligação entre medicamentos da classe dos GLP-1, como Ozempic e Wegovy, e um maior risco de desenvolvimento de degeneração macular relacionada à idade (DMRI úmida). A doença pode levar à perda severa da visão, afetando a mácula, que é responsável pela visão central.

O que diz o estudo?

A pesquisa foi conduzida por especialistas da Universidade de Toronto, no Canadá, e analisou registros médicos de aproximadamente 140 mil adultos com diabetes tipo 2. O objetivo foi verificar se havia uma relação entre o uso desses medicamentos e a incidência de DMRI úmida.

Os resultados indicaram que os pacientes que utilizavam GLP-1 por pelo menos seis meses apresentavam mais do que o dobro da probabilidade de desenvolver a doença, em comparação com aqueles que não utilizavam esses remédios. Além disso, o estudo sugere que quanto maior o tempo de uso, maior o risco.

Pacientes que utilizaram os medicamentos por um período entre 18 e 30 meses tiveram mais que o dobro da probabilidade de desenvolver DMRI úmida, enquanto os que utilizaram por mais de 30 meses apresentaram um risco três vezes maior em relação aos que não usaram.

Apesar disso, os pesquisadores alertam que o risco absoluto de desenvolver a doença ainda é baixo.

Especialistas pedem cautela na interpretação dos dados

O diretor da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), Mauro Goldbaum, destacou que, embora o estudo levante preocupações, ainda não há provas definitivas de que os medicamentos causem a condição ocular.

Ele explica que a DMRI pode começar na forma seca, considerada menos agressiva. Em aproximadamente 10% dos casos, a doença evolui para a forma úmida, caracterizada pelo crescimento de vasos sanguíneos anormais que podem afetar a mácula rapidamente, levando à perda súbita da visão central.

Goldbaum ressalta que o estudo foi baseado em bancos de dados médicos, o que pode gerar limitações na análise.

“Ainda há poucos estudos sobre essa possível relação, e alguns sugerem associação enquanto outros não. A pesquisa deve ser interpretada com cautela até que novos dados sejam confirmados.”

Histórico de preocupações com Ozempic e Wegovy

Esta não é a primeira vez que esses medicamentos são associados a problemas oculares. Um estudo publicado em dezembro de 2024 indicou que pessoas que usavam Ozempic para tratar diabetes tipo 2 tinham um risco elevado de desenvolver danos ao nervo óptico, o que poderia levar à perda de visão permanente.

Além disso, uma pesquisa norte-americana publicada em julho de 2024 sugeriu que o Ozempic poderia mais que dobrar o risco de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAOIN), uma condição rara que afeta o nervo óptico.

Posicionamento da fabricante dos medicamentos

A empresa Novo Nordisk, responsável pela produção do Ozempic e do Wegovy, afirmou em nota que não há provas concretas de que os medicamentos estejam diretamente ligados à DMRI úmida.

Segundo a farmacêutica, estudos anteriores realizados com pacientes idosos indicaram que não houve diferença significativa no desenvolvimento da doença entre os que usaram semaglutida e os que não usaram.

A empresa também declarou que já está conduzindo um novo estudo, chamado FOCUS, para investigar os efeitos da semaglutida no desenvolvimento da retinopatia diabética em pacientes com diabetes tipo 2. A previsão é que os resultados sejam divulgados até o segundo semestre de 2027.

O que fazer diante das novas descobertas?

Diante das evidências ainda não conclusivas, médicos recomendam que usuários de Ozempic e Wegovy consultem especialistas caso apresentem alterações na visão. Além disso, pessoas com histórico familiar de DMRI devem redobrar os cuidados e realizar exames oftalmológicos regularmente.

O debate sobre os riscos dos medicamentos continua, e novos estudos devem ser realizados para esclarecer a possível relação entre os GLP-1 e problemas na visão.

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