EUA suspendem licenças para exportação de equipamentos nucleares à China em meio à guerra comercial

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(Foto: REUTERS/Dado Ruvic)

O governo dos Estados Unidos suspendeu, nos últimos dias, licenças de exportação de equipamentos nucleares para usinas chinesas, segundo quatro fontes ouvidas pela Reuters. A decisão ocorre em meio ao acirramento da guerra comercial entre Washington e Pequim, que agora ultrapassa a disputa tarifária e atinge cadeias produtivas estratégicas.

As suspensões foram comunicadas às empresas afetadas pelo Departamento de Comércio dos EUA e abrangem peças e equipamentos utilizados em usinas de energia nuclear.

O setor nuclear é apenas um dos vários alvos atingidos nas últimas duas semanas, período em que as restrições comerciais passaram a focar a asfixia de suprimentos. Não está claro se a conversa entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da China, Xi Jinping, marcada para esta quinta-feira, terá impacto sobre as suspensões.

Trégua fragilizada após acordo de 12 de maio

No dia 12 de maio, os dois países haviam anunciado um acordo para suspender, por 90 dias, tarifas de três dígitos aplicadas de forma retaliatória. A trégua, no entanto, se deteriorou rapidamente. Os EUA acusaram a China de ter descumprido pontos relacionados a elementos de terras raras. Por sua vez, Pequim rebateu ao afirmar que Washington estava “abusando das medidas de controle de exportação”, ao advertir que o uso global dos chips Huawei Ascend infringia as regras comerciais americanas.

Na sexta-feira anterior, o presidente Trump declarou que autoridades dos dois países voltariam a se reunir em 9 de junho.

Procurado, o Departamento de Comércio dos EUA não comentou especificamente as novas restrições nucleares. Em 28 de maio, no entanto, um porta-voz afirmou que o órgão revisava exportações de “significado estratégico” para a China. “Em alguns casos, o Departamento suspendeu licenças existentes ou impôs requisitos adicionais enquanto a revisão está em curso”, disse o porta-voz em comunicado.

Empresas afetadas e impacto bilionário

Entre os fornecedores impactados estão a Westinghouse e a Emerson. A Westinghouse fornece tecnologia usada em mais de 400 reatores nucleares ao redor do mundo. A Emerson é responsável por instrumentos de medição e outros equipamentos voltados à indústria nuclear. Nenhuma das duas empresas respondeu aos pedidos de comentário. Segundo duas fontes, os negócios afetados envolvem contratos que somam centenas de milhões de dólares.

Um porta-voz da Embaixada da China em Washington afirmou que o presidente Xi enfatizou, durante a ligação com Trump, que os dois países devem respeitar o acordo firmado em Genebra, em 12 de maio. De acordo com o diplomata Liu Pengyu, a China tem “executado com seriedade” o pacto.

“O lado americano deveria reconhecer os avanços já feitos e remover as medidas negativas impostas contra a China”, declarou Liu. Segundo ele, os controles de exportação chineses sobre terras raras seguem práticas comuns e não são direcionados a países específicos.

Outros setores atingidos

As medidas dos EUA ocorrem paralelamente a restrições impostas pela China sobre metais críticos, afetando cadeias de fornecimento de fabricantes em todo o mundo — especialmente as três grandes montadoras dos Estados Unidos. Pequim emitiu licenças temporárias de exportação para fornecedores de terras raras que atendem essas empresas, informou a Reuters.

Ainda não está claro se as novas restrições dos EUA estão diretamente ligadas à guerra comercial nem há previsão de quando podem ser revertidas. Em geral, as licenças de exportação do Departamento de Comércio têm validade de quatro anos e especificam valores e quantidades autorizadas.

Entretanto, segundo fontes, várias novas restrições comerciais contra a China foram impostas nas últimas duas semanas. Isso inclui exigência de licença para a venda de fluidos hidráulicos e suspensão de licenças da GE Aerospace para exportação de motores de aviões destinados à fabricante chinesa COMAC.

Além disso, o governo norte-americano agora exige autorização para exportar etano à China, conforme antecipado pela Reuters na semana anterior. A Enterprise Product Partners, com sede em Houston, afirmou na quarta-feira que seus pedidos emergenciais para viabilizar três carregamentos de etano, que totalizam cerca de 2,2 milhões de barris, ainda não haviam sido aprovados.

A mesma empresa informou que a exigência de licença para venda de butano à China, imposta em 23 de maio, foi posteriormente retirada. A Energy Transfer, sediada em Dallas, relatou ter sido notificada na terça-feira sobre a nova exigência para o etano e disse que planeja solicitar uma autorização emergencial.

Outros setores também foram atingidos, como o de softwares de automação de design eletrônico, com destaque para empresas como a Cadence Design Systems.

Fonte: Redação

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