Fenômeno dos bebês reborn revela impacto das redes sociais na percepção da realidade

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Bebês reborn fabricadas por artesã em Goiás — Foto: Diomício Gomes/Jornal O Popular

Nos últimos meses, as bonecas hiper-realistas conhecidas como bebês reborn ganharam enorme destaque na internet, influenciando discussões e até medidas legislativas. Entretanto, especialistas alertam que a repercussão do tema pode estar sendo amplificada artificialmente pelas redes sociais, criando distorções na percepção da realidade.

Na semana passada, um homem de 36 anos foi preso em Belo Horizonte após agredir uma criança de quatro meses dentro de uma lanchonete. O agressor alegou que confundiu o bebê com um boneco reborn e acreditou que os pais estariam furando fila com o uso do objeto.

A criança precisou ser levada ao hospital com inchaço atrás da orelha, enquanto o agressor foi solto após pagar fiança equivalente a três salários-mínimos.

O impacto da internet na viralização do tema

Pesquisadores indicam que o fenômeno dos bebês reborn está sendo impulsionado pelos algoritmos das redes sociais, que amplificam debates polêmicos. Segundo a psicóloga Cínthia Demaria, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a internet pode criar uma sensação de realidade ampliada.

“É preciso se perguntar até que ponto isso é um discurso que realmente existe. Não é algo que se sai na rua e se vê diariamente”, explica Demaria.

O psiquiatra Vitor Hugo Stangler reforça que a era digital incentiva comportamentos extremos, tornando temas de nicho em assuntos aparentemente universais.

“Parece que estamos vivendo um fenômeno atrás do outro. As coisas são fugazes. Daqui a três meses, provavelmente não estaremos falando mais disso”, destaca Stangler.

Propostas legislativas e o impacto social

A polêmica alcançou o Congresso Nacional, onde propostas buscam limitar benefícios para quem leva bebês reborn a espaços públicos, como o atendimento preferencial.

Apesar do debate intenso, dados de mercado indicam que os bebês reborn representam apenas uma pequena parcela da indústria de bonecas, movimentando cerca de 200 mil dólares anuais — um número insignificante frente ao setor global de 24 bilhões de dólares.

Segundo um relatório da Market Report Analytics, 60% dos compradores dos bonecos são adultos e idosos, muitos deles em tratamento para Alzheimer.

Pesquisadores apontam que a superexposição digital pode incentivar comportamentos impulsivos e agressivos, como evidenciado pelo caso de Belo Horizonte. A psiquiatra Stangler alerta que a sociedade atual vive em um estado de polarização extrema.

“Hoje em dia, as pessoas estão muito mais afloradas. Vivemos em uma sociedade dos extremos, sem meio-termo. Tudo se transforma em ame ou odeie”, destaca.

Esse cenário reforça a necessidade de debates equilibrados sobre temas virais, evitando que bolhas digitais distorçam a realidade e incentivem reações irracionais no mundo real.

Fonte: Redação

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