A maior crise já enfrentada pelo Instituto Nacional do Seguro Social colocou sob escrutínio um esquema bilionário de fraudes que atingiu em cheio aposentados e pensionistas em todo o país. A cada semana, crescem os relatos de segurados que descobriram, só ao final do contracheque, cobranças misteriosas por supostos serviços associativos — sindicatos, conselhos ou entidades que jamais autorizaram.
O volume de vítimas é alarmante: cerca de 3,4 milhões de beneficiários já relataram descontos indevidos, mas o número real pode ser muito maior, já que a maioria ainda não formalizou contestação. O valor potencial de ressarcimento está estimado em R$ 4 bilhões, e o impacto social se traduz em meses de renda corroída sem consentimento — justamente entre a população mais vulnerável.
O mecanismo é silencioso e sorrateiro: dados pessoais e bancários são compartilhados entre entidades, convênios e operadores de folha de pagamento. Com isso, institui-se um débito automático embutido no benefício mensal — muitas vezes inferior a R$ 2 mil. Como o valor individual é pequeno, muitos aposentados não percebem o desfalque de imediato, o que permite a manutenção da fraude ao longo de anos.
Embora operações recentes tenham mirado os principais articuladores do esquema, o sistema permanece ativo, com ações judiciais se multiplicando em todo o país. Só em maio, mais de 10 mil processos foram protocolados por segurados lesados — uma média de 350 por dia. A reação do governo inclui a promessa de devolução em cota única ainda este ano, com possível abertura de crédito extraordinário para viabilizar os pagamentos fora do teto de gastos.
Mas o rombo financeiro é apenas parte do prejuízo. O escândalo abala a confiança no sistema de proteção social e expõe falhas na fiscalização digital. Num país onde o acesso ao INSS é a única fonte de renda para milhões, o desconto invisível virou símbolo de um Estado que falha duas vezes: ao permitir o golpe e ao demorar para reparar a vítima.
Fonte: Redação