O governo do Japão anunciou a criação de uma força-tarefa nacional voltada à gestão de questões relacionadas à população estrangeira. O novo órgão, batizado de Escritório para a Promoção de uma Sociedade de Convivência Harmoniosa com Nacionais Estrangeiros, foi instituído pelo primeiro-ministro Shigeru Ishiba às vésperas da eleição para a câmara alta do Parlamento.
A medida surge em meio ao crescimento da presença de turistas e residentes estrangeiros no país, além de uma campanha eleitoral marcada por discursos que priorizam políticas de “Japão em primeiro lugar”. Segundo o premiê, o objetivo é coordenar ações nas áreas de imigração, uso de sistemas públicos, aquisição de terras e seguro social, com maior rigor na aplicação das normas vigentes.
Nos últimos dez anos, o número de residentes estrangeiros subiu de 2,23 milhões para 3,77 milhões, representando cerca de 3% da população japonesa. O turismo também cresceu expressivamente, com 21,5 milhões de visitantes internacionais apenas no primeiro semestre de 2025, tornando o Japão o país mais visitado da Ásia.
Esse crescimento gerou desconforto em parte da população local. Reclamações incluem superlotação, aumento nos preços de alimentos e imóveis, e suposto uso indevido de benefícios públicos. Medidas emergenciais foram adotadas, como o bloqueio da vista de um ponto turístico popular do Monte Fuji devido à aglomeração excessiva.
O tema ganhou força no debate eleitoral por influência do partido Sanseito, de orientação nacionalista, que defende maior controle sobre estrangeiros e critica a destinação de recursos públicos a não japoneses. Embora seja um partido minoritário, sua ascensão preocupa o Partido Liberal Democrata (PLD), liderado por Ishiba.
Especialistas alertam que o discurso sobre segurança pública e perda de identidade cultural vem sendo alimentado por desinformação. Estudo do Ministério da Justiça mostra que estrangeiros representam 5,3% das prisões realizadas em 2023, proporção próxima à da presença populacional. A criminalidade geral no país tem diminuído há duas décadas.
Apesar da retórica mais rígida, o governo reconhece a necessidade de atrair trabalhadores estrangeiros, em razão do envelhecimento populacional e da baixa taxa de natalidade, que atingiu 1,15 filhos por mulher em 2024, abaixo da reposição populacional. Mais de 2,3 milhões de estrangeiros já ocupam postos de trabalho no Japão, com vistos concedidos em setores como saúde, construção civil e hotelaria.
Durante o anúncio oficial, Ishiba afirmou que o Japão “precisa incorporar a vitalidade da comunidade internacional” para garantir o crescimento sustentável e o equilíbrio econômico do país.