Netanyahu e Trump se reúnem novamente, mas negociações por cessar-fogo em Gaza seguem estagnadas

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(Foto: Reuters)
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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deixou a Casa Branca nesta terça-feira (8) após uma nova reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sem qualquer anúncio público de avanço nas negociações por um cessar-fogo na Faixa de Gaza ou pela libertação de prisioneiros. Foi o segundo encontro entre os líderes em menos de uma semana, refletindo a gravidade da crise — e a falta de progresso.

A estagnação ficou ainda mais evidente com o adiamento da viagem do enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, a Doha, onde ocorrem as negociações indiretas entre Israel e Hamas. Segundo fontes ouvidas pelo Times of Israel, “ainda há muito progresso a ser feito”.

De acordo com o jornal Asharq News, a quinta rodada de negociações terminou sem avanços. Uma autoridade palestina acusou a delegação israelense de não ter autonomia para tomar decisões, agindo apenas como intermediária de Netanyahu e do ministro Ron Dermer. “A equipe israelense apenas escuta e consulta, sem negociar de fato”, afirmou.

Apesar do otimismo inicial de Witkoff — que chegou a afirmar que três dos quatro principais pontos de impasse já haviam sido superados — mediadores egípcios e catarianos demonstraram ceticismo. O principal entrave é a retirada parcial das tropas israelenses durante a trégua de 60 dias, especialmente no Corredor Morag, onde Israel pretende instalar uma “cidade humanitária” para confinar mais de 2 milhões de palestinos.

A proposta, anunciada pelo ministro da Defesa, Israel Katz, gerou forte reação internacional e endureceu a posição do Hamas, segundo fontes palestinas ouvidas pela emissora israelense Kan.

Mesmo diante dos obstáculos, Netanyahu afirmou após o encontro com Trump que Israel continuará empenhado na libertação dos reféns e na eliminação das capacidades militares e governamentais do Hamas. “Não vamos desistir nem por um instante”, declarou em vídeo gravado na Blair House.

A postura inflexível de Israel tem gerado desconfiança entre os mediadores. Enquanto os EUA oferecem garantias verbais de que a trégua será mantida mesmo sem um cessar-fogo permanente, o Hamas exige compromissos formais e escritos, citando promessas anteriores não cumpridas.

Outro ponto ainda indefinido é a identificação dos prisioneiros que seriam libertados. Witkoff sugeriu que a questão já estaria resolvida, mas fontes indicam que ela sequer foi discutida nas conversas em Doha.

Durante a reunião com Trump, Netanyahu também abordou a recente operação conjunta contra o Irã e os esforços para expandir os Acordos de Abraão. “Estamos trabalhando com todo o vigor para ampliar o círculo da paz”, disse.

Mais cedo, o premiê esteve no Capitólio, onde reafirmou que Israel não permitirá que o Hamas volte a controlar Gaza. “Faremos o que for necessário para garantir isso”, afirmou.

A insistência de Israel em impor um cessar-fogo sob seus próprios termos, ignorando demandas do Hamas e alertas dos mediadores, tem dificultado um avanço significativo. Diplomatas árabes avaliam que as lacunas entre as partes são maiores do que se admite publicamente.

O impasse se agrava em meio ao aumento das perdas humanas. Nesta terça-feira, cinco soldados israelenses morreram em uma explosão no norte de Gaza, reacendendo questionamentos sobre os custos de prolongar o conflito.

Apesar de Netanyahu destacar uma “coordenação sem precedentes” com os EUA, os desdobramentos no terreno e as críticas dos mediadores indicam que a responsabilidade pela estagnação recai, cada vez mais, sobre a rigidez da postura israelense.

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