A diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos da ONU, Cindy McCain, afirmou nesta quinta-feira (28) que a situação alimentar na Faixa de Gaza é crítica e que não há comida suficiente para atender à população. Após visitar o território, McCain declarou ter testemunhado mães e crianças passando fome, e reforçou a urgência de ampliar o envio de ajuda humanitária.
“É real e está acontecendo agora”, disse McCain à Associated Press. “Concordamos que devemos redobrar imediatamente nossos esforços para enviar mais ajuda. O acesso e a segurança dos comboios são essenciais.”
Durante sua visita, McCain se reuniu com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que, segundo ela, demonstrou preocupação com a escassez de alimentos. No passado, Netanyahu havia negado a existência de fome em Gaza, classificando as denúncias como propaganda do Hamas.
Declaração oficial de fome e reação internacional
A Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), autoridade reconhecida em crises alimentares, declarou oficialmente a ocorrência de fome catastrófica em Gaza. A ONU estima que mais de 640 mil pessoas enfrentarão níveis extremos de insegurança alimentar até o fim de setembro.
Israel rejeitou a declaração e exigiu uma retratação formal. A agência militar israelense COGAT afirma que mais de 300 caminhões de ajuda entram diariamente em Gaza, mas organizações humanitárias alegam que isso representa menos de 15% das necessidades básicas da população.
Cessar-fogo em negociação
Enquanto a crise se agrava, Egito e Catar aguardam a resposta de Israel à proposta de cessar-fogo de 60 dias, já aceita pelo Hamas. O plano prevê a libertação de reféns e a retirada das tropas israelenses para uma zona-tampão.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou a fome em Gaza como “uma catástrofe atual” e alertou para “consequências devastadoras” da expansão militar israelense.
“Gaza está coberta de escombros, de corpos e de exemplos do que podem ser violações graves do direito internacional”, afirmou Guterres.
Conflito se expande para o Iêmen
Na mesma quinta-feira, Israel realizou ataques aéreos em Sanaa, capital do Iêmen, em resposta aos lançamentos de mísseis e drones pelos rebeldes houthis, apoiados pelo Irã. Os houthis alegam que os ataques são em solidariedade aos palestinos.
Números da guerra
Desde o início do conflito, em 7 de outubro de 2023, cerca de 63 mil pessoas foram mortas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde Palestino. Mais da metade das vítimas seriam mulheres e crianças. Israel contesta os dados, mas não apresentou números próprios.
O ataque inicial do Hamas resultou em 1.200 mortes e 251 sequestros. Atualmente, 50 reféns permanecem em Gaza, e Israel acredita que cerca de 20 ainda estejam vivos.
Guterres reforçou que Israel, como potência ocupante, tem a obrigação de proteger civis e garantir acesso humanitário.
“O desmantelamento sistemático dos sistemas que fornecem alimentos, água e cuidados de saúde é resultado de decisões deliberadas que desafiam a humanidade básica”, concluiu.