A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou oficialmente nesta sexta-feira (22) que a Faixa de Gaza enfrenta um estado de fome, marcando o primeiro registro do tipo no Oriente Médio. A informação foi divulgada pela RFI, com base em dados do Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC), que aponta que mais de 500 mil palestinos vivem em situação “catastrófica”.
Segundo a ONU, a fome poderia ter sido evitada se não fosse a “obstrução sistemática de Israel” à entrada de ajuda humanitária. Em coletiva realizada em Genebra, o coordenador de assuntos humanitários da ONU, Tom Fletcher, afirmou:
“A fome em Gaza poderia ter sido evitada se tivéssemos sido autorizados a agir. Essa fome vai, e deve, nos assombrar a todos.”
Violação do direito internacional
A ONU classificou a situação como uma grave violação do direito internacional. O alto comissário de direitos humanos, Volker Türk, declarou que:
“Fazer as pessoas passarem fome por objetivos militares é um crime de guerra.”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou a urgência de medidas concretas:
“Precisamos de um cessar-fogo imediato, da libertação de todos os reféns e de acesso humanitário total e sem restrições.”
Escala da crise
A fome já atinge 20% da Faixa de Gaza, incluindo a Cidade de Gaza, Khan Yunis (29,5%) e Deir el-Balah (16%), totalizando 65,5% do território, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas. Segundo o IPC, os critérios para declarar fome — falta extrema de alimentos em 20% das famílias, desnutrição aguda em 30% das crianças menores de cinco anos e ao menos duas mortes por fome a cada 10 mil pessoas por dia — já foram atingidos.
A previsão é que o número de pessoas em situação de fome aumente para 641 mil até o fim de setembro, tornando esta a pior crise humanitária registrada pelo IPC desde o início de seus levantamentos na região.
🇮🇱 Reação de Israel
O governo israelense rejeitou as acusações e classificou o relatório da ONU como “tendencioso” e “baseado nas mentiras do Hamas”. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores negou a existência de fome no território palestino.
Segundo a ONU, desde março, Israel impôs um bloqueio total à entrada de ajuda humanitária, liberando apenas quantidades limitadas de insumos a partir de maio. A medida agravou a escassez de alimentos, medicamentos e combustível, aprofundando o colapso social no enclave.