O Pentágono tem bloqueado, há meses, o uso de mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos à Ucrânia para ataques em território russo. Segundo reportagem do Wall Street Journal, publicada nesta segunda-feira (25), desde o fim da primavera Kiev não recebeu autorização para empregar os sistemas Army Tactical Missile Systems (Atacms), com alcance de até 300 km.
Em pelo menos uma ocasião, a Ucrânia solicitou permissão para lançar um ataque contra um alvo dentro da Rússia, mas o pedido foi negado. A política de veto tem limitado as operações militares ucranianas, enquanto a Casa Branca tenta convencer o Kremlin a iniciar negociações de paz.
Mecanismo de revisão e veto estratégico
O sistema de aprovação foi criado por Elbridge Colby, subsecretário de Política do Pentágono, e exige autorização final do secretário de Defesa, Pete Hegseth, para o uso de mísseis de longo alcance — sejam eles fabricados nos EUA ou em países aliados que dependem de inteligência e componentes norte-americanos.
Na prática, a medida revoga a decisão do ex-presidente Joe Biden, que havia autorizado o uso dos Atacms contra alvos russos em seu último ano de mandato.
Trump mantém restrição, mas sinaliza possível mudança
O atual presidente dos EUA, Donald Trump, tem reiterado publicamente seu desejo de encerrar o conflito. Em comunicado recente, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que “não houve mudança na postura militar em relação à guerra Rússia-Ucrânia”.
Apesar disso, Trump declarou nas redes sociais:
“É muito difícil, senão impossível, vencer uma guerra sem atacar o país invasor. Não há chance de vitória!”
Segundo autoridades, essa fala não representa uma mudança imediata na política de restrições, embora Trump possa reconsiderar sua posição futuramente.
Novos armamentos e limitações adicionais
Embora não haja previsão de novos envios de Atacms, os EUA aprovaram um pacote de US$ 850 milhões em armamentos, financiado majoritariamente por países europeus. Entre os itens estão 3.350 mísseis ERAMs, com alcance entre 240 e 450 km, também sujeitos à autorização do Pentágono.
A mesma regra se aplica aos mísseis Storm Shadow, de origem britânica, por dependerem de dados de inteligência dos EUA.
Alternativas ucranianas e pressão por autonomia
Diante das restrições, a Ucrânia tem investido em drones de longo alcance e no desenvolvimento de um novo míssil de cruzeiro chamado Flamingo, previsto para entrar em produção até o fim de 2025 ou início de 2026.
Especialistas alertam que limitar o uso dos Atacms enfraquece a capacidade de Kiev de impor custos à Rússia. “Drones são úteis, mas têm vulnerabilidades. Não se deve restringir a capacidade ucraniana de pressionar Moscou”, afirmou James Townsend, ex-funcionário do Pentágono.
Estoques militares e prioridades estratégicas
O Pentágono também criou uma classificação interna de armas — verde, amarela e vermelha — com base na disponibilidade nos arsenais dos EUA. Essa medida permite ao secretário de Defesa reter sistemas prometidos à Ucrânia quando considerados críticos para a segurança nacional, especialmente diante da preocupação com um eventual conflito com a China.