Milhares de manifestantes tomaram as ruas da França nesta quarta-feira (10) em uma mobilização nacional marcada por bloqueios, confrontos com a polícia e atos de vandalismo. Um dos episódios mais graves ocorreu em Paris, onde um restaurante foi incendiado durante os protestos. A ação faz parte do movimento “Bloquons Tout” (“Vamos Bloquear Tudo”), convocado pelas redes sociais em reação à nomeação do novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu.
A mobilização começou nas primeiras horas do dia, com fechamento de rodovias, queima de barricadas e obstrução de vias em diversas cidades, incluindo Nantes e a capital francesa. Em resposta, o governo mobilizou cerca de 80 mil agentes de segurança em todo o território nacional. Estimativas oficiais apontam 175 mil pessoas nas ruas, enquanto a Confederação Geral do Trabalho calcula cerca de 250 mil participantes.
A insatisfação popular se intensificou após Lecornu assumir o cargo, substituindo François Bayrou, que deixou o posto após ser derrotado em uma moção de desconfiança no Parlamento. Lecornu é o quinto nome indicado por Emmanuel Macron desde o início de seu segundo mandato, iniciado em 2022. Sua posse oficial ocorreu no mesmo dia dos protestos, em meio à pressão para aprovar o novo orçamento do governo, já rejeitado anteriormente pelos parlamentares.
A França enfrenta uma crise econômica profunda, sendo o país mais endividado da União Europeia em termos absolutos. A nomeação de Lecornu gerou forte reação de partidos de centro-esquerda e esquerda, que venceram as últimas eleições legislativas, mas não conseguiram formar maioria para governar.
Durante os protestos, foram registrados confrontos diretos entre manifestantes e forças policiais, com uso de gás lacrimogêneo em áreas próximas a escolas e hospitais. Em Nantes, bombeiros atuaram para conter incêndios em barricadas e latas de lixo. Em Paris, pichações com frases como “comam os ricos” foram vistas em muros e vias públicas.
Até o momento, cerca de 300 pessoas foram detidas em diferentes regiões do país. As autoridades seguem monitorando os desdobramentos da mobilização, que pode se estender nos próximos dias, caso o impasse político e econômico não seja resolvido.