O servidor Clebson Ferreira, ex-analista de inteligência do Ministério da Justiça, afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que integrantes do governo do então presidente Jair Bolsonaro solicitaram relatórios estatísticos que buscavam relacionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a facções criminosas, especialmente durante o período eleitoral de 2022.
Ferreira disse que a demanda partiu da subsecretária de inteligência da pasta, que o orientou a verificar se havia correlação entre áreas dominadas pelo Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, e votação expressiva para Lula. A ideia seria identificar eventual ligação indireta entre o desempenho eleitoral do petista e territórios controlados por grupos criminosos.
O analista também revelou ter sido incumbido de mapear municípios em que Lula e Bolsonaro obtiveram mais de 75% dos votos. A finalidade, segundo ele, era analisar o comportamento das forças de segurança nos dias de votação. O servidor relatou que notou padrões de atuação diferenciados por parte da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em áreas onde Lula liderava, como pressão e obstáculos no trânsito nas adjacências dessas localidades.
Ferreira mencionou ainda que compartilhou a preocupação com essas demandas à época por mensagens com sua então esposa, devido ao viés político explícito das ordens recebidas. Os dados levantados indicaram predominância de Lula no Nordeste brasileiro, justamente nas regiões onde foram registrados relatos de congestionamentos e dificuldades para eleitores chegarem às urnas.
O testemunho de Clebson Ferreira integra o conjunto de oitivas no processo que apura a trama golpista de 2022, dividida em quatro núcleos com 23 réus, incluindo agentes ligados à organização de ações estratégicas, coercitivas e desinformação. Ainda nesta segunda-feira (14), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também será ouvido pelo STF. Cid fechou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal.