A presidente da Suíça, Karin Keller-Sutter, deixou Washington nesta quarta-feira (6) sem conseguir evitar a aplicação de uma tarifa de 39% sobre as exportações suíças para os Estados Unidos — principal destino dos produtos do país. A viagem, organizada às pressas, teve como objetivo negociar uma alternativa à medida anunciada pelo presidente americano, Donald Trump.
Apesar de Keller-Sutter afirmar que teve uma “reunião muito boa” com o secretário de Estado Marco Rubio, fontes próximas à delegação suíça confirmaram que ela não se encontrou com Trump nem com autoridades de alto escalão da área comercial. A proposta suíça de uma tarifa reduzida de 10% foi rejeitada por Washington, que mantém como prioridade a redução do déficit comercial americano.
Tentativas de negociação e possíveis concessões
Fontes suíças indicam que os EUA demonstraram interesse em ampliar suas exportações de energia e defesa para a Suíça. Em troca, o governo suíço busca aliviar as tarifas sobre bens como relógios, máquinas e chocolates — produtos emblemáticos da indústria nacional.
Trump havia anunciado em abril uma tarifa de 31% sobre produtos suíços, mas aumentou a alíquota para 39% na semana passada. A medida entra em vigor nesta quinta-feira (7).
Em comunicado nas redes sociais, Keller-Sutter afirmou que discutiu com Rubio temas bilaterais, tarifas e assuntos internacionais. Fontes próximas à comitiva suíça disseram que o grupo já esperava deixar Washington sem um acordo, mas que está aberto a novas rodadas de negociação.
“Viemos com a intenção de apresentar novas ideias ao governo americano para resolver a questão tarifária, o que fizemos”, afirmou uma fonte. “Estamos prontos para continuar negociando.”
🇪🇺 Comparações com a União Europeia e pressão interna
A decisão de Trump surpreendeu o governo suíço e ameaça causar impactos severos à economia exportadora do país. A União Europeia, por exemplo, conseguiu negociar uma tarifa de 15% em troca de um acordo que inclui a compra de US$ 750 bilhões em gás natural liquefeito, petróleo e produtos nucleares dos EUA.
Embora a UE não tenha formalizado a compra de mais armamentos, sinalizou que fornecedores americanos se beneficiariam com o aumento dos gastos em defesa — alinhados às exigências da OTAN sob pressão de Trump.
A Suíça, por sua vez, já adquiriu equipamentos militares dos EUA e tem um pedido de 6 bilhões de francos suíços (US$ 7,43 bilhões) para caças F-35A da Lockheed Martin. Apesar de o governo suíço afirmar que não pretende retaliar, alguns políticos defendem o cancelamento do contrato como resposta à disputa comercial.
Impacto econômico e reação empresarial
Durante a visita, Keller-Sutter se reuniu com empresários suíços, incluindo o presidente da Roche, Severin Schwan, e os fundadores da gestora Partners Group, Alfred Gantner e Marcel Erni. Também participou Daniel Jaeggi, da Mercuria, empresa global de energia e commodities.
Fabricantes suíços alertam para perdas significativas. O setor de queijos, por exemplo, teme queda nas exportações para os EUA, que representaram 11% das vendas de Gruyère e Emmental em 2024. “Os impostos são enormes”, disse Anthony Margot, produtor da quinta geração. “Não podemos substituir um mercado como os Estados Unidos da noite para o dia.”
O Swiss Market Index caiu 1% nas negociações da tarde desta quarta-feira, refletindo a tensão comercial.
Negociações frustradas e ausência de encontros-chave
A Suíça havia chegado a um esboço de acordo com os EUA em julho, prevendo tarifa de 10%. No entanto, Trump voltou atrás após uma ligação tensa com Keller-Sutter. Fontes suíças confirmaram que o diálogo não foi produtivo, mas negaram qualquer ruptura diplomática.
Durante a visita, a presidente suíça não se encontrou com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, nem com o representante de Comércio, Jamieson Greer, ou o secretário de Comércio, Howard Lutnick.
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