O Wright’s Market, tradicional supermercado de Opelika, Alabama, com cerca de 30 mil habitantes, tornou-se um ponto de referência local desde os anos 1970. Com aproximadamente um terço das vendas dependentes do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP), o dono Jimmy Wright descreve a iniciativa como “uma grande parte do que fazemos”, destacando o papel essencial do programa para famílias trabalhadoras que tentam conciliar alimentação e moradia.
Cortes históricos no SNAP
O SNAP, maior iniciativa contra a fome nos Estados Unidos, distribui cerca de US$ 6,16 por dia por beneficiário. No entanto, a nova legislação do presidente Donald Trump — a One Big Beautiful Bill — representa os maiores cortes nos 86 anos de história do programa, colocando em risco o apoio alimentar para mais de 42 milhões de pessoas.
Além de afetar diretamente os consumidores, os cortes também ameaçam a função do SNAP como motor econômico local, especialmente em comunidades rurais. Wright destaca que o programa estimula agricultores, atacadistas e fabricantes, e reforça que “pequenos mercados dependem fortemente do SNAP para manter suas operações”.
Impacto nas pequenas lojas
Enquanto grandes redes como Walmart e Kroger podem absorver o impacto, lojas independentes estão em situação crítica. Segundo o Center for American Progress, 27 mil estabelecimentos — grande parte em zonas rurais — podem sofrer quedas significativas nas receitas.
Esses mercados costumam ser os únicos com serviço completo em áreas de baixa renda. As novas restrições, somadas às mudanças no Medicaid, deverão atingir diretamente populações vulneráveis que o Partido Republicano prometeu proteger.
Consequências econômicas locais
Estudos indicam que a cada US$ 5 em novos benefícios SNAP, são gerados até US$ 9 em atividade econômica. Um levantamento da Universidade da Califórnia aponta que o aumento na renda impulsiona empregos, vendas e salários — tornando o SNAP vital para a sobrevivência das comunidades e dos supermercados locais.
Riscos de desertos alimentares
O Congressional Budget Office prevê uma redução de US$ 187 bilhões nos gastos federais com SNAP na próxima década. Enquanto republicanos argumentam que a reforma incentivará mais pessoas a trabalhar, estudos sugerem que os novos requisitos de emprego podem ter efeito contrário — com a perda estimada de 143 mil postos de trabalho em setores ligados à produção e distribuição de alimentos.
Segundo especialistas, as exigências não levam em conta barreiras reais enfrentadas por muitos beneficiários, como problemas de saúde, dependência ou falta de acesso a oportunidades. “Dizer ‘vamos tirar sua comida para que você trabalhe’ desafia a lógica”, afirma Diane Whitmore Schanzenbach, economista da Universidade Northwestern.
Desigualdade estrutural e risco à estabilidade
O programa também corre risco de perder sua efetividade como estabilizador econômico em crises futuras. Pela primeira vez, parte do ônus será transferida aos estados, que têm capacidade fiscal limitada. Durante a Grande Recessão, o SNAP foi a principal rede de apoio a famílias de baixa renda, sustentando negócios locais e protegendo empregos.
Sem essa proteção, o alerta dos especialistas é claro: bancos de alimentos não têm estrutura para compensar a redução do SNAP. O risco de novos desertos alimentares — regiões sem acesso a alimentos saudáveis e acessíveis — torna-se cada vez mais real.