O sudeste do Afeganistão foi novamente abalado por um terremoto de magnitude 6,2 nesta quinta-feira (5), o terceiro tremor registrado na região desde domingo. Segundo o Centro Alemão de Pesquisa em Geociências, o epicentro foi localizado no distrito remoto de Shiwa, próximo à fronteira com o Paquistão. Há relatos iniciais de danos em Barkashkot, mas os detalhes ainda estão sendo apurados.
A sequência de abalos sísmicos já deixou mais de 2.200 mortos e cerca de 3.640 feridos, segundo o governo talibã. As províncias de Kunar e Nangarhar foram as mais atingidas, com vilarejos inteiros destruídos e mais de 6.700 casas reduzidas a escombros. A situação é crítica: dezenas de milhares de pessoas estão desabrigadas, e os recursos para resgate e assistência são escassos.
“Tudo o que tínhamos foi destruído. A única coisa que restou foi a roupa do corpo”, relatou Aalem Jan, sobrevivente da província de Kunar, sentado com sua família sob árvores, ao lado de seus poucos pertences.
Ajuda humanitária sob pressão
As Nações Unidas e organizações internacionais alertam para uma emergência crescente. A Federação Internacional da Cruz Vermelha estima que até 84 mil pessoas foram direta ou indiretamente afetadas. Em algumas comunidades, dois terços da população morreram ou ficaram feridos, e 98% das construções foram danificadas, segundo a Islamic Relief.
A ONU aponta uma necessidade urgente de alimentos, medicamentos e abrigo. A Organização Mundial da Saúde identificou uma lacuna de US$ 3 milhões em financiamento para manter o fornecimento de insumos médicos. O Programa Mundial de Alimentos afirma que só tem recursos para atender os sobreviventes por mais quatro semanas.
Isolamento político e cortes de ajuda
O cenário é agravado por cortes na ajuda internacional, especialmente após decisões do presidente dos EUA, Donald Trump, que reduziu o financiamento externo. A frustração de doadores com as políticas restritivas do Talibã, sobretudo em relação às mulheres e trabalhadores humanitários, intensificou o isolamento do país.
“O terremoto deve servir como um lembrete claro: o Afeganistão não pode ser deixado para enfrentar sozinho uma crise após a outra”, alertou Jacopo Caridi, do Conselho Norueguês de Refugiados.
Com o solo instável após dias de chuvas e construções frágeis feitas de barro e madeira, muitas famílias preferem permanecer ao ar livre, temendo novos tremores. A cadeia montanhosa Hindu Kush, onde as placas tectônicas da Índia e da Eurásia se encontram, torna o país especialmente vulnerável a terremotos devastadores.