Um dos projetos de infraestrutura mais ambiciosos do país, o túnel Santos-Guarujá, se tornou o mais novo ponto de atrito entre o governo federal e a gestão de Tarcísio de Freitas em São Paulo. O que começou como exemplo raro de cooperação política entre adversários se converteu em embate institucional, após um ofício da Autoridade Portuária de Santos (APS) acusar o governo paulista de agir de forma unilateral e ameaçar a segurança jurídica da obra.
A tensão cresceu depois que o governo de São Paulo republicou o edital internacional da concessão do túnel, elevando o valor previsto da obra para R$ 6,8 bilhões, um acréscimo de R$ 800 milhões em relação à estimativa inicial. O documento da APS critica a falta de diálogo e pede governança colaborativa, apontando que a condução do processo tem desconsiderado os mecanismos previstos para a coordenação entre entes federativos.
A carta foi enviada ao governador Tarcísio, ao ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e a outras autoridades. No texto, o presidente da APS, Anderson Pomini, manifesta preocupação institucional com o que chama de “procedimentos unilaterais”.
O desgaste ocorre em meio a uma mudança sensível no comando do Ministério dos Portos. A substituição de Márcio França (PSB) por Silvio Costa Filho, indicado pelo centrão e aliado de Tarcísio, gerou mal-estar interno. Fontes do governo federal alegam que o governador paulista tem minimizado a contribuição da União na obra, enquanto o novo ministro adota discurso mais diplomático, exaltando a parceria.
O túnel imerso é visto como vitrine do Novo PAC do presidente Lula e, ao mesmo tempo, trunfo estratégico de Tarcísio, cotado para disputar a presidência em 2026. A disputa em torno da paternidade da obra reflete não apenas divergências administrativas, mas o acirramento de projetos políticos distintos.
O governo paulista ainda não se manifestou oficialmente sobre o conteúdo do ofício.