As vendas no varejo brasileiro apresentaram uma retração de 0,4% em abril, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (12 de junho). Apesar da queda, o resultado veio melhor do que a expectativa de recuo de 0,8%, prevista em pesquisa da Reuters.
Esse desempenho marca a primeira contração do setor após três meses consecutivos de alta, refletindo um processo de desaceleração econômica diante das atuais condições monetárias restritivas.
Análise dos dados e impacto econômico
O varejo registrou a maior queda desde junho de 2024, quando apresentou um recuo de 0,9%. Em comparação com abril de 2024, houve um avanço de 4,8%, superando a previsão de 3,4% dos analistas.
Segundo Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, o varejo enfrenta um período de acomodação, especialmente após atingir em março o maior patamar da série histórica, iniciada em 2000.
“Está havendo uma desaceleração, após três meses de crescimento. Existe o efeito base, pois o patamar anterior foi recorde. É muito mais difícil subir.”, explicou Santos.
Setores que mais impactaram o resultado
Entre os oito setores analisados pelo IBGE, quatro tiveram retração nas vendas, sendo os mais afetados:
- Combustíveis e lubrificantes (-1,7%)
- Equipamentos de escritório, informática e comunicação (-1,3%)
- Hipermercados, supermercados e produtos alimentícios (-0,8%)
- Móveis e eletrodomésticos (-0,3%)
De acordo com Santos, o grupo de supermercados e hipermercados, que exerce grande influência no varejo, foi afetado principalmente pela inflação persistente e pelo crescimento menor da renda das famílias.
Já os setores que tiveram alta incluem:
- Livros, jornais e papelaria (1,6%)
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,0%)
- Tecidos, vestuário e calçados (0,6%)
- Artigos farmacêuticos e perfumaria (0,2%)
No varejo ampliado, que engloba veículos, motos, peças e material de construção, a queda foi ainda maior: 1,9% em relação a março.
Perspectivas para o varejo nos próximos meses
O cenário econômico para os próximos meses deve ser influenciado por fatores como:
- Inflação elevada, especialmente no setor de alimentos, que pressiona o poder de compra das famílias.
- Taxa básica de juros Selic, atualmente em 14,75% ao ano, que pode ser ajustada pelo Banco Central na próxima semana.
- Condições financeiras mais restritivas, impactando o crédito e a demanda interna.
Por outro lado, alguns fatores sustentam o consumo, como a resiliência do mercado de trabalho e o crescimento da massa salarial, que ajudam a manter a demanda por bens e serviços.
Analistas indicam que a trajetória do varejo dependerá da combinação desses elementos, e há expectativa de acomodação do setor ao longo do ano.