Se Xangai pudesse falar, contaria histórias de transformações extraordinárias — e talvez nenhuma tão futurista quanto a chegada dos “táxis aéreos”. A metrópole chinesa, referência em inovação e tecnologia, acaba de apresentar o E20, aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical desenvolvida pela TCab Technology.
Com design aerodinâmico e acabamento branco-prateado, o E20 domina o salão de demonstrações da empresa no distrito de Minhang, polo de ciência e tecnologia da cidade. “Este é o futuro do transporte urbano”, afirma Xu An, vice-presidente da TCab, destacando que a aeronave pode reduzir um trajeto de 40 minutos de carro para menos de 20 minutos pelo ar — com mais conforto e eficiência.
Fundada em 2021, a TCab surgiu no embalo da chamada “economia de baixa altitude” na China. Seu nome, que significa “táxi do tempo”, reflete a ambição de criar um ecossistema de mobilidade aérea sustentável e digital. O E20 transporta até cinco pessoas, atinge 320 km/h, tem autonomia de 200 km e cobra cerca de quatro yuans por quilômetro por passageiro — o equivalente a um táxi premium, mas cinco vezes mais rápido.
O protótipo voou pela primeira vez em 2023, e a certificação é esperada para 2027. A linha de montagem, em construção na província de Anhui, deve produzir 200 unidades por ano. Já há 500 pedidos formalizados, dentro e fora da China.
À frente do projeto está Yon Wui NG, engenheiro malaio-chinês e ex-diretor da Airbus na China. “Transformar o sonho da mobilidade tridimensional em realidade era uma ambição de infância”, diz ele. Yon destaca a vantagem chinesa em baterias, algoritmos de drones e infraestrutura aeronáutica como diferencial competitivo.
O apoio do governo também foi decisivo. A criação da Shanghai Low-altitude Economic Industry Development Co., Ltd., em 2024, estruturou investimentos e regulamentações para impulsionar o setor.
O E20 inova com rotores basculantes, que alternam entre voo vertical e horizontal, reduzindo ruído e consumo de energia. A empresa planeja versões maiores, com até 20 lugares, e expansão gradual: primeiro para turismo, depois para rotas intermunicipais e, por fim, para deslocamentos urbanos.
Com escritórios na Malásia e em Singapura, a TCab mira o mercado internacional. “Já me imaginei vendo pessoas viajando para as ilhas da Malásia a bordo do nosso E20”, diz Yon, que se vê como elo entre a China e seu país natal.
Ao final da entrevista, ele resumiu sua trajetória com duas cartas fictícias: “Para o meu eu do passado: mantenha-se firme. Para o meu eu do futuro: não se esqueça da aspiração original.”
Com o E20, Xangai não apenas fala — ela voa.